2.7.15

Contai às criancinhas que os banqueiros são muito maus

David Byrne & Brian Eno, “Regiment”, in https://www.youtube.com/watch?v=h9WyGbSJ__M
As criancinhas precisam de ser instruídas. Precisam de ser metidas nos eixos da verdade, pois que a verdade é aquela que contamos – não interessa que haja quem diga que esta verdade não faz sentido, nós é que sabemos. As criancinhas precisam de saber que há uma casta de gente muito má. Os banqueiros. Só pensam no vil metal. Só pensam em engordar o farto pecúlio, em multiplicar os milhões por outros milhões enquanto o custo da multiplicação é espalhar mais miséria pelos que já são miseráveis e condenar aos alvores da miséria muitos que estavam três degraus acima dela.
As criancinhas precisam de ser educadas a desconfiar dos banqueiros. Não lhes podem confiar o seu dinheiro, a menos que queiram hipotecar a vida. Devem aprender que não devem pedir dinheiro emprestado aos banqueiros. Pois, agiotas, cobram juros. Pior: os banqueiros seduzem a maralha a pedir mais dinheiro emprestado. É assim que trazem na mão os endividados. É assim que fazem fortuna com as necessidades dos que precisam do crédito.
As criancinhas precisam de saber que o povo não precisa de pedir emprestado; são os banqueiros que se insinuam, compram uns agentes infiltrados que propagandeiam as virtudes de muito consumir, de consumir ainda mais – e tudo isto requer crédito, o negócio que enriquece os banqueiros e coloca os endividados no penhor, sem bens e com a alma encardida. Culpa toda dos banqueiros. As criancinhas também precisam de saber que os banqueiros, mais a gente que têm a soldo, se exasperam se alguém sugerir um perdão da dívida, por parcial que seja, ou que o preço do dinheiro emprestado fique menos oneroso para os endividados. Heresia!, exclamam. Não pedissem emprestado!, segue-se outra indignada exclamação. Como se os banqueiros não dependessem deste estado de dependência material que induzem nos pouco mais que miseráveis e nos arrivistas que querem estar dois degraus mais perto dos banqueiros (sem notarem que há toda uma imensidão que os continua a separar).
Temos que educar as criancinhas nestas verdades. Para que o porvir seja a era do despojamento dos banqueiros, que até os mandantes mantêm sitiados. E se as criancinhas, num ato reflexivo que podia ser lição para os educadores perdidos de lucidez, perguntarem se já privamos com banqueiros para termos tantas certezas categóricas; ou se perguntarem se soubemos de tudo isto porque um de nós conheceu o psicanalista de um banqueiro que violou o segredo profissional; nessa hipótese, façamos de conta. Mudemos de assunto. Ou insistamos que os mais velhos, por mais velhos serem, não devem ser desmentidos nas suas verdades. As verdades que só ganham posto por antiguidade.

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