David
Byrne & Brian Eno, “Regiment”, in https://www.youtube.com/watch?v=h9WyGbSJ__M
As criancinhas precisam
de ser instruídas. Precisam de ser metidas nos eixos da verdade, pois que a
verdade é aquela que contamos – não interessa que haja quem diga que esta
verdade não faz sentido, nós é que sabemos. As criancinhas precisam de saber
que há uma casta de gente muito má. Os banqueiros. Só pensam no vil metal. Só
pensam em engordar o farto pecúlio, em multiplicar os milhões por outros
milhões enquanto o custo da multiplicação é espalhar mais miséria pelos que já
são miseráveis e condenar aos alvores da miséria muitos que estavam três
degraus acima dela.
As criancinhas precisam
de ser educadas a desconfiar dos banqueiros. Não lhes podem confiar o seu
dinheiro, a menos que queiram hipotecar a vida. Devem aprender que não devem
pedir dinheiro emprestado aos banqueiros. Pois, agiotas, cobram juros. Pior: os
banqueiros seduzem a maralha a pedir mais dinheiro emprestado. É assim que
trazem na mão os endividados. É assim que fazem fortuna com as necessidades dos
que precisam do crédito.
As criancinhas precisam
de saber que o povo não precisa de pedir emprestado; são os banqueiros que se
insinuam, compram uns agentes infiltrados que propagandeiam as virtudes de
muito consumir, de consumir ainda mais – e tudo isto requer crédito, o negócio
que enriquece os banqueiros e coloca os endividados no penhor, sem bens e com a
alma encardida. Culpa toda dos banqueiros. As criancinhas também precisam de
saber que os banqueiros, mais a gente que têm a soldo, se exasperam se alguém
sugerir um perdão da dívida, por parcial que seja, ou que o preço do dinheiro
emprestado fique menos oneroso para os endividados. Heresia!, exclamam. Não
pedissem emprestado!, segue-se outra indignada exclamação. Como se os
banqueiros não dependessem deste estado de dependência material que induzem nos
pouco mais que miseráveis e nos arrivistas que querem estar dois degraus mais
perto dos banqueiros (sem notarem que há toda uma imensidão que os continua a
separar).
Temos que educar as criancinhas
nestas verdades. Para que o porvir seja a era do despojamento dos banqueiros,
que até os mandantes mantêm sitiados. E se as criancinhas, num ato reflexivo
que podia ser lição para os educadores perdidos de lucidez, perguntarem se já
privamos com banqueiros para termos tantas certezas categóricas; ou se
perguntarem se soubemos de tudo isto porque um de nós conheceu o psicanalista
de um banqueiro que violou o segredo profissional; nessa hipótese, façamos de
conta. Mudemos de assunto. Ou insistamos que os mais velhos, por mais velhos
serem, não devem ser desmentidos nas suas verdades. As verdades que só ganham
posto por antiguidade.
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