X Mal
Deutschland, “Matador”, in https://www.youtube.com/watch?v=aROkoDzOArs
Ao acordar, descobri que
sou colaboracionista. Estou a soldo dos farisaicos alemães – aquela gente
escabrosa que quis ser imperial pelas armas e, em não o conseguindo, vai a
caminho de ludibriar mais de meia Europa através de falinhas mansas e menos
mansas. Ah, convém daqui excluir a outra quase metade da gente: é só gente
muito presciente, com distintos pergaminhos analíticos e farta erudição, gente
sempre à frente por (talvez) possuir um escondido oráculo, que eles sabem-na
toda e não se deixam enganar por teutões sacripantas.
Descobri que sou
colaboracionista. Quero, portanto: a) vender, e a preço de saldo, a soberania
da pátria; b) maltratar todos os que armadilharem o notável poder germânico que
se estende Europa fora – se necessário for, traindo os compatriotas,
entregando-os nas mãos dos algozes alemães (ou a seu soldo) que vierem
patrulhar a Europa inteira; c) apoucar a cultura, a língua, os costumes, tudo o
que tiver um laivo de lusitanismo, pois essa é idiossincrasia primária que se deve
curvar perante a maravilhosa germanofilia; d) falar alemão (coisa que não sei –
ainda), comer salsichas da mais variada espécie acompanhadas por intragáveis
mistelas e ser arrogante, muito arrogante, na expressão da superioridade da
cultura que me foi inculcada; e) isto tudo com discrição, para em fase ulterior
passar à ação violenta, caso as bolsas de resistência de tacanhos nacionalistas
prosperarem mais do que o esperado; f) ambiciono ser um testa de ferro dos
mandantes alemães, lídimo representante da nova ordem europeia que será a de
uma Europa alemã, pois os países pequenos não têm lugar à mesa das nações que
importam – só para ter um Mercedes-Benz; g) colaboracionista de boa cepa, hei
de ostentar ignorância histórica ao desprezar as proezas com selo português; h)
e hei de dar ordem para descer a bandeira portuguesa, hasteando, ato contínuo,
e com hirto orgulho, a bandeira do novo império germânico.
Ao deitar, vou concluir
que serei colaboracionista. Quanto mais não seja, para dar razão a algumas
cabecinhas apoquentadas que vivem sitiadas pelos fantasmas do passado e
inventam novos fantasmas para um futuro assustador que (parece) é o que eles
mais desejam.
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