30.7.15

Xeque-mate

Volstad, “É um jogo”, in https://www.youtube.com/watch?v=zBXV7Dr5CPM
Jogue-se o jogo. Os jogadores sabem do risco que tomam – e não há seguro que cubra o risco que vem pelo meio. É o jogo de tudo ou nada. Os intervenientes estudam as jogadas a preceito. Um passo em falso já pode não ter remédio. Estão frente a frente e mexem as peças com a destreza de estrategas. E pergunta-se: quanta da lucidez não se esconde das jogadas preparadas diante de tanta pressão, perante a hipótese de se ser derrotado e, com a derrota, se apresentar o fim sem remissão?
Os jogadores anseiam proclamar a desejada palavra que liquida o adversário: “xeque-mate”. É quando o jogo termina. O adversário encurralado, sem saída possível, ou a saída deste acosso final constituída simples impossibilidade. É o fim deste jogador. No jogo não há contemplações. Os dois intervenientes sabem ao que vão. A cortesia termina quando se cumprimentam na véspera da primeira jogada. Depois não há concessões. Nem misericórdia: nenhum dos jogadores pode esperar semelhante ato piedoso como contrapartida. E como o que está em jogo é questão de sobrevivência, todas as jogadas são sopesadas com prudência. É um jogo de paciência. Não se esperam estocadas finais quando o jogo vai até a metade.
É um jogo imprevisível. As manobras vãs podem ter o condão de iludir o adversário, deixando-o extasiado com a vantagem, distraindo-o com os louros extemporâneos. Mas o outro interveniente também é sabedor dos meandros do jogo, sabe medir o pulso às manobras do oponente. Nisto, podem cair em impasse. Podem ser sensíveis ao risco, sabedores do efeito do xeque-mate caso seja proclamado pelo adversário. O jogo pode-se arrastar em participando dois empatas sem propensão para o risco. O impasse termina em empate. A nenhum é dado dizer “xeque-mate”.
Adiam a contenda. Combinam novo jogo. Pode ser que da próxima um deles acorde com disposição para o risco, apanhando na curva o outro que não contava com a nova personalidade empossada pelo adversário. Para à segunda ser de vez. Até que o vencedor prove o veneno que deu a provar e seja a próxima vítima de um xeque-mate. E assim sucessivamente: dos que vierem ao palco do jogo, a nenhum é dado escapar ao fatalismo do xeque-mate. O xeque-mate não deixa nada de pé. E, mesmo assim, os jogadores inebriam-se com a hipótese de à sua boca subir a palavra “xeque-mate”.

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