Todd
Terje, “Inspetor Norse”, in https://www.youtube.com/watch?v=gHiqPG0526U
Este irritante tema da
beleza e da feiura! E de como a fealdade dos outros constitui vício para quem a
arrasta, aos olhos dos outros que chamam a si a prerrogativa de avaliar os
dotes físicos alheios. Não vale a pena iludir a questão com lugares comuns que
celebram a subjetividade da beleza (e do seu antónimo, a feiura). Cada um afere
pelos seus olhos. É perda de tempo elucubrar sobre as propriedades subjetivas
do atributo (ou da sua ausência), pois essa é sempre uma medida ditada pelos
olhos de quem a tira. Convém, contudo, alguma cautela na hora de se ditar
sentença sobre a fealdade dos outros.
O mal está num efeito
circular que pode não ter fim: é quando um qualquer afiança a fealdade de
outrem. Usualmente, em tom jocoso e com a pretensão de apoucar quem (de acordo
com esse olhar) está em dívida perante a beleza. Pior ainda é quando a
personagem declara feia outra pessoa sem decerto ter espelhos em casa, ou estando
em falta a uma cuidada observação da sua particular fisionomia ao espelho antes
de ditar sentenças sobre a fealdade dos outros. Os telhados de vidro são um
aborrecimento. E se a finura do vidro está na proporção inversa da casaca
grossa de quem sob os telhados de vidro habita, o resultado é catastrófico para
o julgador da beleza alheia.
Pode dar-se o caso do
julgador da beleza alheia se achar um paradigma do belo, o que lhe confere
arbítrio (e arrogância) para ditar para a ata o desdouro sobre a não formosura
de outros. Mas também se pode dar o caso de a personagem em causa sair do
conforto do seu umbigo no exato momento em que o preconceito sobre os outros
(quando são feios) se abate sobre a sua pessoa. E começa o processo circular,
em que todos podemos ser abatidos na trincheira da feiura.
Nessa altura, talvez seja
difícil ao proto-narcisista aturar-se a si mesmo e à dúvida existencial sobre a
sua (auto) reverenciada formosura.
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