The
Chemical Brothers, “Go”, in https://www.youtube.com/watch?v=LO2RPDZkY88
Ah, tanta tinta inútil.
Tanto suor maldito. Tanta efervescência quando a suavidade das mãos podia
limpar o suor em catadupa. Tantos espíritos amordaçados pela batuta da
exasperação. A tinta vertida em papel, émulo da efervescência da alma, podia
ser convertida em forma de poesia. De poesia lhana, artífice das inteiras
noites sem intrusão de pesadelos não convidados.
Afinal, tudo se resume a
um marco geodésico. O equilíbrio magistral onde tudo é centrípeto, a começar
pela alma que o alcança. Desprezam-se as coisas imundas que corrompem o
pensamento, que o sitiam num sobressalto iminente. Mercadores de indulgências ficam
com a incumbência de as distribuir pelas almas afogueadas, pelas almas sedentas
de atritos constantes. Mal o corpo soergue o marco geodésico, apenas contam as
paletas de cores garridas que enfeitam o rosto com um sorriso discreto, as
estrofes quiméricas que se repetem e repetem para gáudio da prodigiosa
centralidade do ser.
Às vezes, o marco
geodésico está obnubilado por uma teimosa névoa. Como se as nuvens descessem do
céu e açambarcassem as montanhas, locupletando-as do saber visível. Mas o marco
geodésico está no seu sítio. Não pode a alma atemorizar-se com o tempo medonho
que faça. O segredo começa por recusar a capitulação. Qualquer dia, qualquer
que seja o tempo que faça, mesmo que venham tinhosas tempestades a caminho: o
marco geodésico não se move. Pode estar escondido pelas densas, plúmbeas
nuvens; em toda a sua generosidade, o marco geodésico está no mesmo sítio, só à
espera que nele alguém vá buscar os sedimentos da redenção.
A paisagem que se avista
desde o marco geodésico é voraz. Não interessa o tempo que faz, não interessa
se o dia veio retalhado com as cores douradas, ou se os pés se meteram ao
caminho no meio da mais intensa escuridão da noite. No marco geodésico, o corpo
torna-se imperador. A grandeza bebe-se no promontório encimado pelo marco
geodésico. E tudo é harmonia, cores vivazes, palavras encantadoras, gestos aveludados,
gente admirável, um vinho inadjetivável que distribui prazeres.
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