22.7.15

Dá-lhe estricnina

The Breeders, “Cannonball”, in https://www.youtube.com/watch?v=t2g8ClAcpF8
Podem as nuvens exteriorizar a penumbra que oblitera o bom senso. Podem as chuvas bolçadas por essas nuvens ser uma espécie de chuva ácida, transtornando a pacatez. Podem as almofadas requisitar sonhos em sobressalto, dando fermento a uma certa avidez de repulsa. Ou podem adejar uns anjos seráficos, prometendo lençóis acetinados se os olhos se desviarem das tentações que liquefazem a serenidade da alma. É tudo uma questão de escolha. Ajudada pelo espírito no estado em que se encontrar, o que tem o condão de o oferecer à volatilidade dos tempos.
De facto, a litigância é uma empreitada escusada. Desarranja o sono, povoando-o de fantasmas que se querem ausentes destas paragens. É um golpe contra a idílica paisagem, a paisagem que se quer a habitar por dentro. A litigância não resolve nada. Mesmo quando julgamos que resolve, o que acontece quando ela se salda pela coroa do triunfo a repousar nas nossas mãos, só à espera de ser entronizada.
Tudo se descompõe quando o braço de ferro é convocado por quem nos é exterior. Vai uma pessoa no sossego dos seus dias iguais e esbarra na demanda. Alguém a rogar conflito, e nós a entoarmos preces diárias para que o conflito se engane na morada e aterre noutra caixa de correio. Nesta altura, os mais incomodados não ficam impassíveis. Não é possível (reclamam) ignorar as provocações, ou os ultrajes, ou os ataques que apoucam a pessoa visada. Até se convocam adágios populares para legitimar a reação – eles têm a ver com calos pisados e com filhos que só são boa gente se não virarem a cara para o outro lado. (Em sentido contrário do princípio cristão que manda dar a outra face, imperturbável com o esbofetear no lado do rosto já esbofeteado).
Ou podemos apenas presentear gente assim com estricnina. A estricnina da indiferença.

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