The
Breeders, “Cannonball”, in https://www.youtube.com/watch?v=t2g8ClAcpF8
Podem
as nuvens exteriorizar a penumbra que oblitera o bom senso. Podem as chuvas
bolçadas por essas nuvens ser uma espécie de chuva ácida, transtornando a
pacatez. Podem as almofadas requisitar sonhos em sobressalto, dando fermento a
uma certa avidez de repulsa. Ou podem adejar uns anjos seráficos, prometendo
lençóis acetinados se os olhos se desviarem das tentações que liquefazem a
serenidade da alma. É tudo uma questão de escolha. Ajudada pelo espírito no
estado em que se encontrar, o que tem o condão de o oferecer à volatilidade dos
tempos.
De
facto, a litigância é uma empreitada escusada. Desarranja o sono, povoando-o de
fantasmas que se querem ausentes destas paragens. É um golpe contra a idílica
paisagem, a paisagem que se quer a habitar por dentro. A litigância não resolve
nada. Mesmo quando julgamos que resolve, o que acontece quando ela se salda
pela coroa do triunfo a repousar nas nossas mãos, só à espera de ser
entronizada.
Tudo
se descompõe quando o braço de ferro é convocado por quem nos é exterior. Vai
uma pessoa no sossego dos seus dias iguais e esbarra na demanda. Alguém a rogar
conflito, e nós a entoarmos preces diárias para que o conflito se engane na
morada e aterre noutra caixa de correio. Nesta altura, os mais incomodados não
ficam impassíveis. Não é possível (reclamam) ignorar as provocações, ou os
ultrajes, ou os ataques que apoucam a pessoa visada. Até se convocam adágios
populares para legitimar a reação – eles têm a ver com calos pisados e com
filhos que só são boa gente se não virarem a cara para o outro lado. (Em
sentido contrário do princípio cristão que manda dar a outra face,
imperturbável com o esbofetear no lado do rosto já esbofeteado).
Ou
podemos apenas presentear gente assim com estricnina. A estricnina da
indiferença.
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