In the Nursery, “Precious”,
in https://www.youtube.com/watch?v=e9RIxYLT07k&list=PLj9WM6XJZoNnUdigsmJpAuujoXSDQJWym
Andava o periscópio em demanda de assunto, quando na
televisão passavam imagens de um debate no parlamento. Como berram os políticos!
Sobretudo quando discutem uns com os outros, como se houvesse a necessidade de
impor uma razão sobre a rival (duas razões: porque a cada um dos que pleiteiam
assiste uma razão) e ela vingasse através do termómetro dos decibéis que soam à
saída da boca que profere a vozearia. Se não é aos gritos, é vê-los muito importunados
com o adversário, pouco faltando para darem a entender que melhor seria que o
adversário não ocupasse um lugar no mapa político.
O estrépito não é privativo dos debates. Também acontece
quando um político se dirige aos apaniguados, naquelas celebrações para-eucarísticas
a que se convencionou chamar “comícios”. Deve ser um fenómeno estudado pelos
peritos da comunicação, a crer na sintonia entre a intensificação da sonoridade
do discurso e o final de uma oração – sobretudo das que são contundentes. A turba,
no papel de destinatária da oratória, começa a aplaudir à medida que o orador
cresce para o final da oração e cresce na intensidade da voz, dando o mote para
a própria intensificação do aplauso. É quase como se o político, ao crescer nos
tamancos dos decibéis, pedisse aos apaniguados para começarem a soltar as
palmas que, talvez, tenham um efeito catalítico nos que estão um degrau abaixo
dos arregimentados: os simpatizantes e os que são voláteis na hora de votar,
afinal os que mais importam na contabilidade eleitoral e na diurese entre eleições.
As carótidas entumecidas, pulsando ira por o oponente
incomodar com a discordância, ou apenas por dirigir interrogações incómodas, trespassam
a imagem dos danos potenciais que a política deste modo provoca na saúde. Dos imediatamente
intervenientes, que estão amiúde a dois passos da apoplexia. E de todos nós, os
outros que não se apaixonam por esta política de paroxismos estéreis, de discursos
retumbantes que, por o serem, escondem vacuidade, de agentes intelectualmente
desonestos e de personagens que confundem o pleito político com deslealdade,
peritos em ardis que pedem meças à desmemória dos próprios e da audiência (que
se deseja distraída ou com curto pavio da memória).
Fraco estalão, o da política que há. Por isso, escasseia
a política nestes textos. Pois a higiene mental manda não dar guarida à indigência
que a atormenta.
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