18.1.16

Aviso: a política causa danos irreparáveis na saúde

In the Nursery, “Precious”, in https://www.youtube.com/watch?v=e9RIxYLT07k&list=PLj9WM6XJZoNnUdigsmJpAuujoXSDQJWym
Andava o periscópio em demanda de assunto, quando na televisão passavam imagens de um debate no parlamento. Como berram os políticos! Sobretudo quando discutem uns com os outros, como se houvesse a necessidade de impor uma razão sobre a rival (duas razões: porque a cada um dos que pleiteiam assiste uma razão) e ela vingasse através do termómetro dos decibéis que soam à saída da boca que profere a vozearia. Se não é aos gritos, é vê-los muito importunados com o adversário, pouco faltando para darem a entender que melhor seria que o adversário não ocupasse um lugar no mapa político.
O estrépito não é privativo dos debates. Também acontece quando um político se dirige aos apaniguados, naquelas celebrações para-eucarísticas a que se convencionou chamar “comícios”. Deve ser um fenómeno estudado pelos peritos da comunicação, a crer na sintonia entre a intensificação da sonoridade do discurso e o final de uma oração – sobretudo das que são contundentes. A turba, no papel de destinatária da oratória, começa a aplaudir à medida que o orador cresce para o final da oração e cresce na intensidade da voz, dando o mote para a própria intensificação do aplauso. É quase como se o político, ao crescer nos tamancos dos decibéis, pedisse aos apaniguados para começarem a soltar as palmas que, talvez, tenham um efeito catalítico nos que estão um degrau abaixo dos arregimentados: os simpatizantes e os que são voláteis na hora de votar, afinal os que mais importam na contabilidade eleitoral e na diurese entre eleições.
As carótidas entumecidas, pulsando ira por o oponente incomodar com a discordância, ou apenas por dirigir interrogações incómodas, trespassam a imagem dos danos potenciais que a política deste modo provoca na saúde. Dos imediatamente intervenientes, que estão amiúde a dois passos da apoplexia. E de todos nós, os outros que não se apaixonam por esta política de paroxismos estéreis, de discursos retumbantes que, por o serem, escondem vacuidade, de agentes intelectualmente desonestos e de personagens que confundem o pleito político com deslealdade, peritos em ardis que pedem meças à desmemória dos próprios e da audiência (que se deseja distraída ou com curto pavio da memória).
Fraco estalão, o da política que há. Por isso, escasseia a política nestes textos. Pois a higiene mental manda não dar guarida à indigência que a atormenta.

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