PZ + DB, “Tu és a minha
gaja”, in https://www.youtube.com/watch?v=u4bSvzArdGI
Um restaurante
congemina uma campanha publicitária. O mais que consegue é uma fotografia de um
naco de carne de vaca para a comparar com uma atriz de filmes pornográficos. Ou
seja: a atriz, por pertencer a um métier
que torna imperativo aquilo que os “bons costumes” chamam promiscuidade, leva
com o rótulo de “vaca” – no que “vaca”, em linguagem figurada, tem de
pejorativo, por associação àquelas mulheres “fáceis” que têm sexo com muitos
homens.
À boa maneira marialva,
no que o marialvismo tem de atavicamente misógino, este é um padrão de
comportamento que descreve uma subespécie (para não dizer subproduto) do sexo
masculino: o varão viril que coisifica as mulheres, despreza-as como seres
fracos na escala humana e aproveita-se egoisticamente delas para terçar seus
carnais deleites. O ser brutificado que conta anedotas sobre “gajas”, sendo as
“gajas” um produto de óbvio consumo e, por via de regra, três degraus abaixo
“deles” na escala da inteligência. O brutamontes que alardeia proezas, quer as
que resultam do galanteio e que caucionam um numeroso rol de mulheres
conquistadas, quer as do exercício do ato sexual.
(E isto sempre me fez
espécie, pois quem não tem dúvidas dos seus pergaminhos não precisa de os
publicitar em jeito ufano; o que alimenta uma tirada certeira: os “reis do
sexo”, que por aí se gabam de o serem, devem ter graves problemas na função.)
O mal é que, a subespécie
do marialva-matarruano-misógino é copiosa. E corta transversalmente gerações,
como se fosse uma coisa que se herda no património genético. Estes espécimes
têm graves problemas para se situarem perante o mundo e, é caso para o dizer,
perante si mesmos. Prolongam para o presente o atavismo ancestral da desigualdade
de sexos – outro opróbrio que se lhes imputa, por serem responsáveis por uma
doença da modernidade: a discriminação positiva para restaurar direitos das
mulheres.
Continuam formatados
para as diferenças. Por exemplo: se uma atriz pornográfica, ou uma mulher que o
não seja, troca de parceiro sexual com abundância, é galdéria, puta, mulher de
má vida, mulher pouco recomendável. (E, todavia, aposto que estes marialvas de
pacotilha não enjeitariam uns instantes de sexo com uma destas mulheres.); se
um homenzarrão troca de parceira sexual com a mesma abundância, é motivo de
orgulho – para o dito cujo e para outros como ele, que exprimem uma das mais
atrasadas mentais formas de solidariedade: a solidariedade masculina (como se
as proezas de um fossem sentidas pelos outros). Se uma atriz pornográfica entra
num jogo sexual com dois homens, é uma depravada; se um marialva de parcos
neurónios pratica o ato com duas mulheres ao mesmo tempo, é um herói.
Não é exagero dizer
que há um “pensamento” (se é que assim se pode chamar) expelido pelo mesmo lado
que nos faz falar de escatológicas coisas. É o caso da mundividência destes
marialvas.
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