P. J. Harvey, “Rido of Me”,
in https://www.youtube.com/watch?v=73cY3ft7h5s
A cartografia dos
haveres: por entre o deve e o haver, um resultado qualquer, saldo ou défice. E
fazem-se as contas finais. Não as quantitativas, que essas já foram empreendidas;
mas as que invocam qualitativos preceitos, rasgando a frieza dos números que
vieram à colação.
Tiram-se as medidas
em esboço de contentamento, ou de angústia. Mas ainda não são as medidas
derradeiras. Depois vem a última das medições: os números a preceito são um bem
a enfeitar um feito ou um mal a descer sombras sobre a cartografia? Convoca-se
a medida relativa. E convoca-se, também, a carência de lucidez, caso seja
preciso emprestar uma máscara à medida que fica emoldurada no porvir. Metem-se
circunstâncias ao caminho que justificam um mal e o cosem com atenuantes. Ou
então, comparam-se as medidas de agora com as medidas de antanho, descontando o
efeito da idade, ou acrescentando a medida da madurez entretanto abraçada, para
tingir com cores diferentes a medida final. Ou, ainda, fazem-se comparações
interpessoais: se alguém chegou a um resultado, por mau que pareça, a medida
arrefece porque houve quem, em melhores condições, pior se achou no retrato.
É o esboço do mal
menor. A inventiva capacidade para transfigurar uma derrota em triunfo. Diz-se,
em exercício de autocondescendência, “podia
ser pior”. E segue-se o aplauso de si mesmo, porque os olhos fitam as
hipóteses piores e propositadamente ignoram as possibilidades melhores que estariam
à mão de semear. Mas o mal menor é sempre um mal. Menor do que um mal maior que
pudesse arrimar no lóbulo do vento. Só a incapacidade para admitir frágeis
demandas trava a lucidez exigível para entender que um mal menor, por menor que
seja, é um mal que afeia o horizonte.
Piores são os
mesquinhos que conseguem transformar um mal menor num bem de qualquer espécie.
Desenganem-se os que fazem equivaler, na escala das medidas, um mal menor ao
segundo dos ótimos. Um mal é a antítese do ótimo. Não seu sinónimo. Nem sequer
sucedâneo.
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