21.7.16

Os vândalos de almas

Groove Armada, “Paper Romance”, in https://www.youtube.com/watch?v=74cQF2ebgOM
Um mercado sem regras. A única moeda com curso legal é a frieza dos egoístas. Ambicionam proezas e cegam os demais se preciso for para chegar ao desiderato. Boicotam o contentamento dos outros, pois julgam que esse é o mantimento sublime de que precisam para serem.
Agem como bombardeiros que disparam a artilharia sem saberem quem, precisamente, vão atingir; só sabem que querem deflagrar um fogo venal num lugar onde se aloja alguém a quem interessa causar dano. São organismos virais que se alimentam do bem alheio e só embolsam um módico de bem se souberem do dano, e contundente, perpetrado em quem dantes passava pelas escotilhas de um nirvana. Atiram os dados ao calhas e quem vier na rede é vítima. A vítima de um momento: interessa absorver essa alma pelas entranhas, esvaziando-a de toda a substância que ela comporte. Insinuam-se, sem mostrarem as intenções que os trazem na insinuação fraudulenta.
Apoderam-se da vontade da vítima, mercê dos pergaminhos estultos que os levam a terçar poderosas influências sobre as que se aprestam a ser suas presas. A certa altura, hipotecam a outra pessoa, como se estivessem nela embebidos, tomando conta da sua vontade. Liquidando o que sobra do bem de que a presa era tutora. Pelo vazio que preenche o interior da alma locupletada, esgaravatam as veias, contaminam as paredes que davam esteio à presa. Desapossada de alma, quase em estado vegetativo, a presa perde importância. Os vândalos das almas desarticulam os andaimes que foram ferramenta para a vandalização. Estão consolados.
Por pouco tempo. Vampirizar uma alma alheia tem breve prazo de validade. Os vândalos de almas começam a sentir um vazio por ausência de crueldade. Vão ao mercado onde foram dissolvidas as regras. Fazem uma sondagem, afinando as antenas que parecem oráculo, à caça de uma vítima. Não demoram. E pergunta-se: não podem ser derrotados? Têm capacidades sobre-humanas, ou têm um dom para adivinharem três passos antes de o mundo ter a possibilidade de desabar sobre as suas cabeças?
Ninguém sabe dar resposta. Ninguém os reconhece. São fantasmas que jogam nos interstícios das sombras e devoram as almas alheias sem que estas consigam dar conta, a não ser quando já só sobra um vazio. Não se pode fugir deles. A roleta, neste mercado sem regras, é muito russa.

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