1.7.16

Fumo branco?

Surma, “Maasai”, in https://www.youtube.com/watch?v=wlTbkMFWu78&spfreload=5
O sobressalto constante. À espera do tempo. À espera que o tempo se faça tempo, em vez de permanecer uma constante promessa em adiamento. No rio passa a água que não importa. Ou, então, a água que passa é discreta, esconde os nutrientes à procura do seu tempo. E o olhar não dá conta.
Fumo branco: a expectação que não escurece com o ocaso de um dia mais. Pode ser que seja o dia vindouro. Ou o outro a seguir. Ou um qualquer, definitivamente até ao fim do tempo (no que o tempo for credor, ou no que eu for credor do tempo – não se percebe a ténue fronteira). À espera, com a paciência que se tornou metódica. Irrazoáveis demandas voejam no mar das hipóteses. Amontoam-se as hipóteses que levantam o véu às possibilidades que possam vir ao ancoradouro. Mas elas não passam de hipóteses enquanto no céu não houver sinais do fumo branco. E o tempo parece que se arrasta, numa consumição irremissível que faz soçobrar a lucidez nos palcos onde se congemina a espera. Quase tudo se resume à espera.
Numa luta interna, procuro arranjar avenidas outras por onde o pensamento deva transitar. Uma redenção do tempo fugitivo que se faz na penumbra da espera, enquanto as paredes de branco se caiam à espera de um porvir diferente, de uma nova gramática dos sentidos que povoe os desafios de que o corpo sente carência. Pois há um tempo sem curadoria que convoca o desassombro de deliberações que cortem a ramagem rente, deixando a usura dos escombros a que se reduziu o património embolsado num longo lustro de cinco lustros seguidos.
Não adianta a espera – dizem. A espera que inflaciona a agonia de uma espera, assim rotulada. As ramificações da cobiça das possibilidades dão asas à destemperança dos sonhos que intuem a metamorfose do palco que existe. Não, não se decreta a inutilidade dos sonhos. Nem a desqualificação da matéria vivente que toma conta das veias à medida que os sonhos sobem à boca de cena. Que sirvam para que um engenho, por rudimentar que seja, acenda uma fogueira. Nem que seja à espera de um fogo, não fátuo, de onde irradie fumo. Nem que seja para manter acesa uma possibilidade. O fumo branco de que se espera.

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