Surma, “Maasai”, in https://www.youtube.com/watch?v=wlTbkMFWu78&spfreload=5
O sobressalto constante. À espera do tempo. À espera que
o tempo se faça tempo, em vez de permanecer uma constante promessa em adiamento.
No rio passa a água que não importa. Ou, então, a água que passa é discreta, esconde
os nutrientes à procura do seu tempo. E o olhar não dá conta.
Fumo branco: a expectação que não escurece com o ocaso
de um dia mais. Pode ser que seja o dia vindouro. Ou o outro a seguir. Ou um
qualquer, definitivamente até ao fim do tempo (no que o tempo for credor, ou no
que eu for credor do tempo – não se percebe a ténue fronteira). À espera, com a
paciência que se tornou metódica. Irrazoáveis demandas voejam no mar das hipóteses.
Amontoam-se as hipóteses que levantam o véu às possibilidades que possam vir ao
ancoradouro. Mas elas não passam de hipóteses enquanto no céu não houver sinais
do fumo branco. E o tempo parece que se arrasta, numa consumição irremissível
que faz soçobrar a lucidez nos palcos onde se congemina a espera. Quase tudo se
resume à espera.
Numa luta interna, procuro arranjar avenidas outras por
onde o pensamento deva transitar. Uma redenção do tempo fugitivo que se faz na
penumbra da espera, enquanto as paredes de branco se caiam à espera de um
porvir diferente, de uma nova gramática dos sentidos que povoe os desafios de
que o corpo sente carência. Pois há um tempo sem curadoria que convoca o
desassombro de deliberações que cortem a ramagem rente, deixando a usura dos escombros
a que se reduziu o património embolsado num longo lustro de cinco lustros
seguidos.
Não adianta a espera – dizem. A espera que inflaciona a agonia
de uma espera, assim rotulada. As ramificações da cobiça das possibilidades dão
asas à destemperança dos sonhos que intuem a metamorfose do palco que existe. Não,
não se decreta a inutilidade dos sonhos. Nem a desqualificação da matéria
vivente que toma conta das veias à medida que os sonhos sobem à boca de cena.
Que sirvam para que um engenho, por rudimentar que seja, acenda uma fogueira. Nem
que seja à espera de um fogo, não fátuo, de onde irradie fumo. Nem que seja para
manter acesa uma possibilidade. O fumo branco de que se espera.
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