18.7.16

O gato que não entendia a revolução (em curso)

In https://www.rt.com/viral/351658-turkey-coup-cat-photo/
Na ponta da espingarda, o rosto do gato. Do gato perplexo, que na sua inocência (prefiro à hipótese dos antropocêntricos: animal irracional), não percebia por que estavam os homens nesta exaltação, escondidos nas trincheiras para não serem torpedeados pelo inimigo, para estarem de atalaia e friamente tirarem a vida ao homem que ali era seu inimigo.
O gato simplesmente não percebia como podem os homens, na febre intensa que crisma a conquista do poder, matar outros homens que num tempo, num lugar e numa circunstância estão do lado contrário da barricada. O gato, inocente, não se amedrontava com a espingarda com a mira mesmo ao lado do seu rosto. Sentou-se ao lado do guerrilheiro e quadrou-o com o rosto perplexo. Talvez não soubesse que o disparo da espingarda faria um troar que o assustaria de morte. Os olhos do gato, dir-se-ia, pretendiam prender a atenção do homem com a espingarda a tiracolo. Como se quisesse conversar com ele. Para saber por que se abraçou à orgia de violência. Para lhe perguntar se não tem medo de morrer. E, ainda, se ele tem em tão baixa consideração a vida ao ponto de estar à espera de descarregar a artilharia à sua disposição se um inimigo posar na linha de mira. Queria a atenção do guerreiro, para o desconversar da guerra.
O gato até podia querer convencer o guerrilheiro de circunstância a depor a arma, a fazer-se ao caminho e a chegar a casa, ir para junto da família; pois numa guerra, a qualquer momento o caçador se transforma em presa, e a família é que fica com o monopólio dos padecimentos. O gato vadio, da numerosa comunidade de gatos vadios de Istanbul, não saiu do lugar enquanto o homem da espingarda ficou à espera de ordem para avançar, ou de inimigo para matar. Ou, porventura, o gato ficou triste por ver o homem cair em combate.
Nessa longa noite em que os homens dançaram a pérfida dança da morte na sagração do poder em arrematação, o gato sereno à frente da espingarda do guerrilheiro foi uma lição para os homens.  

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