In https://www.rt.com/viral/351658-turkey-coup-cat-photo/
Na ponta da espingarda, o rosto do gato. Do gato
perplexo, que na sua inocência (prefiro à hipótese dos antropocêntricos: animal
irracional), não percebia por que estavam os homens nesta exaltação, escondidos
nas trincheiras para não serem torpedeados pelo inimigo, para estarem de
atalaia e friamente tirarem a vida ao homem que ali era seu inimigo.
O gato simplesmente não percebia como podem os homens,
na febre intensa que crisma a conquista do poder, matar outros homens que num
tempo, num lugar e numa circunstância estão do lado contrário da barricada. O gato,
inocente, não se amedrontava com a espingarda com a mira mesmo ao lado do seu
rosto. Sentou-se ao lado do guerrilheiro e quadrou-o com o rosto perplexo. Talvez
não soubesse que o disparo da espingarda faria um troar que o assustaria de
morte. Os olhos do gato, dir-se-ia, pretendiam prender a atenção do homem com a
espingarda a tiracolo. Como se quisesse conversar com ele. Para saber por que
se abraçou à orgia de violência. Para lhe perguntar se não tem medo de morrer.
E, ainda, se ele tem em tão baixa consideração a vida ao ponto de estar à
espera de descarregar a artilharia à sua disposição se um inimigo posar na
linha de mira. Queria a atenção do guerreiro, para o desconversar da guerra.
O gato até podia querer convencer o guerrilheiro de
circunstância a depor a arma, a fazer-se ao caminho e a chegar a casa, ir para
junto da família; pois numa guerra, a qualquer momento o caçador se transforma
em presa, e a família é que fica com o monopólio dos padecimentos. O gato
vadio, da numerosa comunidade de gatos vadios de Istanbul, não saiu do lugar
enquanto o homem da espingarda ficou à espera de ordem para avançar, ou de
inimigo para matar. Ou, porventura, o gato ficou triste por ver o homem cair em
combate.
Nessa longa noite em que os homens dançaram a pérfida
dança da morte na sagração do poder em arrematação, o gato sereno à frente da
espingarda do guerrilheiro foi uma lição para os homens.
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