Protomartyr, “Cowards
Starve”, (live), in https://www.youtube.com/watch?v=q7oxlCdYNl4
Para memória futura: não esquecer as
encomendas que têm a alma como endereço. E, de seguida, não esquecer que há um
porvir por representar no mapeamento do tempo. Oxalá houvesse mais rebeldia
para povoar o caos. Oxalá não estivesse tudo feito (como mandam as convenções
que defendem o cidadão ordeiro, educando-o a preceito). Em podendo, trate-se de
desordenar as coisas para serem apetecíveis. Que interesse tem reter tudo o que
se ambiciona nas mãos, se depois as coisas ficam esvaziadas de sentido?
Talvez devêssemos aprender com a lição
da abreviatura. O que mais importa é ter fulgores de múltiplas paisagens, meia
dúzia de páginas lidas de vários livros, espraiar a música conhecida pela sua
diversidade. Mesmo que isso importe um conhecimento marginal das coisas. Somos ensinados
a ser especialistas. Ter o dom de um perito é consagração elevada e cativa respeitabilidade
entre os semelhantes. Mas o que mais apetece é ser dissemelhante. Sair dos
trilhos diligentemente escavados para não termos o incómodo de perdermos o
caminho. Mas quem quer obedientemente seguir apenas pelos caminhos rasgados por
quem se supõe patrono do bem-estar comum?
A ousadia que tem legítimos traços de
ousadia é a que rompe com a emaciação instituída. É a que arrepia caminho para a
heterodoxia. Não apenas como critério de antítese, ou somente para honrar os
sacramentos de um irremediável espírito de contradição. É ser diferente porque
as maiorias cansam. Não inovam. E mesmo quando se anotam mudanças no pesar
estratégico dos lugares-comuns, a partir do momento em que são entronizados
lugares-comuns (mesmo que venham tingidos no úbere da diferença) perdem
imediatamente a originalidade.
Se formos abreviaturas, conhecemos
mais. Não conhecemos tão a fundo. Entre as alternativas, e contra a maré
dominante, que se prefira a qualidade da quantidade (e não a quantidade afunilada
como critério da qualidade). A semelhança forjada é um jugo que dissolve a
originalidade que transita em cada indivíduo. Em vez de sermos totalidade
determinada a partir do exterior, sejamos antes abreviaturas gordas,
abreviaturas que se consagram à inteireza de um roteiro com assinatura própria,
indelével. Sejamos gente inteira, tutora do seu próprio pensar.
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