Aimee Mann, “Save Me”
(live), in https://www.youtube.com/watch?v=HrtMemDVp-k
Os pés percorrem alegremente o chão
que teve inscrição messiânica. Depois da peregrinação, os ingredientes da transformação
estão todos depositados nas mãos do agente, à sua disposição, para ele com eles
fazer o que aprouver. Tecem-se loas ao processo, apesar de não ser expedito e
de exigir esforço, meditação, paciência, sacrifício. Arranjam-se mezinhas solidárias,
para o agente não se achar imerso numa solidão conturbada que o possa demover
de levar ao fim as intenções. Os demais não perdoariam: nos tantos olhares vertidos
sobre o agente, levita a exigente responsabilidade.
A páginas tantas, o agente que
percorre o chão prometido parece que o faz em nome próprio e em nome de todos os
que nele depositam um atento olhar e um módico de esperança. Ninguém percebe
que o esforço é individual e individuais se devem manter os resultados da
empreitada. Mas as pessoas são ávidas no espiolhar do recolhimento, que devia
ser um ato de isolamento e deixou de o ser. A humanidade não consegue deixar de
lado a propensão para coletivizar tudo e mais alguma coisa. Até os atos que
deviam pertencer à reclusão do pensamento e à solidão da obra.
Há culpas a repartir. O agente que
parte para o terreno prometido não consegue esconder a aventura dos demais. Assim
como assim, em anteriores demandas o agente esteve na posição de observador
exterior; também foi juiz interessado no desempenho dos agentes que puseram pés
no chão prometido. As culpas também recaem sobre os que se arvoram no papel de
observadores na exterioridade do agente. É a indeclinável suposição de alvitrar
sobre a existência que é exterior aos observadores, que supõem legitimidade
para incarnarem juízes. A teia em que se embebem é um emaranhado a que se não vê
destino fácil.
No fim de contas, o chão pisado pelo
agente é terreno minado. E ele sabe-o. Deitou-se a jeito de os olhares outros
sobre ele indagarem, constituindo-se supostos juízes sem mandato reconhecido. A
osmose faz subir a maré dos sobressaltos. Do lado do agente, que tem os pés
ferventes pelo paradoxo do terreno minado (que até à conclusão da empreitada
assim permanece). E do lado dos que o observam do exterior, seus juízes implacáveis
que se preparam para partilhar o triunfo da empreitada e para o atirar aos
tubarões em caso de malogro.
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