Moderat, “Therapy”, in https://www.youtube.com/watch?v=A8HZHEJD36Y
Não chegam as promessas alinhavadas
ao correr das perequações de onde se alvitra a ordem interior de mudança. Mudar
só por mudar pode não ser prescrição escrupulosa e, no final, as contas
convocam um emudecimento não capaz.
Compõem-se hinos ao brado saído de
algures, sem rosto visível, que aponta o corpo para mares aquietados que, quase
se diria, são mares onde seria possível o corpo deitar-se sem risco de
afogamento. É como se um silêncio ensurdecedor contaminasse os lugares por onde
se anda em demanda de algo. E desse silêncio ensurdecedor se retirasse um
pressentimento empírico, atirando para cima da mesa as cartas que se jogam ao
sortilégio. As mãos, sem receio, vão a jogo e pegam nas cartas. Um jogo há de
sair, um jogo qualquer. Nos extravios onde se esgrimem sorte e azar, as cartas
terçadas ensaiam um fado que se desalinhava na penumbra das cartas que vão a jogo.
É uma terapia que se congemina, no desensarilhar
de um emaranhado, como se, deitado num tear, as cordas à espera do artesão se
enamorassem dele e expiassem a prescrição esperada. Às vezes, o resultado é uma
contrafação. Só se saberá tempos depois quando se ajuizar que o alcançado não
moveu as montanhas, como esperado. É preciso entender que a norma adverte que
vai uma distância grande entre o que se deseja e o que se alcança. O diapasão é
a capacidade para transformar o alcançado em desejado sem transfigurar o
desejado, como se o resultado final, por muito diferente que se meça por
comparação com o resultado esperado, se pudesse confundir com o esperado. A
honestidade intelectual ordena que não sejamos reféns deste ardil.
A terapia convoca uma exigência lúcida.
É preciso ter em mãos um instrumento devidamente calibrado, onde tudo possa ser
sopesado. Será indiferente manter esperanças alimentadas na capacidade do
instrumento que afina o julgamento, se a capacidade para entender os resultados
esbarrar num estorvo. A terapia serve para limpar o horizonte onde se entretece
o pensamento. Por dentro das veias que emprestam o sangue lúcido à função, sem
cair nos engodos que povoam a adulteração do entendimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário