18.10.17

Fibra de carbono

Mogwai, “Brain Sweeties”, in https://www.youtube.com/watch?v=C6HISLB6YuI    
O bramido do vendaval através das árvores arrancadas ao solo e que são atiradas, num jogo aleatório, contra o que vier a preceito ser sua presa. Contam-se os telhados que voaram e de que se não sabe paradeiro, as ruas desfeitas nos vestígios da tempestade, o areal extinto sob o comando implacável do mar sobressaído, as vítimas finais.
Inventariam-se os danos. É preciso convencer a vida habitual para um parêntesis enquanto não for possível resgatar as condições da vida habitual. Esboçam-se planos para pôr as coisas em seu devido lugar, ou para as substituir por novos sucedâneos. Não se capitula – não se capitula. Não há temor que amesquinhe a vontade, impedindo-a de atirar o olhar para o horizonte que se oferece – por mais que, a dada altura, tomado pelas baças cores, não se aviste firmamento que assim se distinga. É como se fosse imperativo embarcar numa frágil balsa e derrotar os rápidos de um rio que a atiram, vertiginosamente, contra vários precipícios. Sabendo que a vontade se congemina para derrotar os precipícios, mantendo-se a balsa em obstinada navegação, derramando o nada sobre a provação. E não são os aguçados cornos da intempérie que liquefazem a firmeza.
O peito é inderrotável. Uma fileira de pétreos elementos, à prova de maquinações malparidas, à prova de todas as balas. Por junto, devolvem-se à procedência, sem rasuras sequer, os bastardos gravames. Deixando a estirpe enlear-se nas teias canhestras de sua lavra, à falta de dano causado no projetado alvo, condenada ao ergástulo que estava destinado à presa falhada. Os inventores do boomerang legaram a metáfora que, no uso do indomável cinismo, garante à procedência o dobro da malvadez que fora desenhada nos cavaletes da insídia. E depois, fica-se sossegadamente, em primeira fila, a assistir à decadência em seu desfile fingido. Sem lamentos, nem perjúrio. Ocupando um lugar-tenente que não mistifica vinganças nem procura um vetusto lugar para os desajeitados algozes condenados à irrelevância de seu malogro.
A pele é feita de fibra de carbono. Mesquinhos predicamentos não incomodam o caudal livre e sereno de um rio que é muito maior. Dê por onde der, de um rio a caminho da embocadura. Com proteção da fibra de carbono. Ao olhar devolvendo os puros sedimentos matriciais, os que expulsam a melancolia e o motim, em total derrota dos seus fautores.

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