Mogwai, “Brain Sweeties”,
in https://www.youtube.com/watch?v=C6HISLB6YuI
O bramido do vendaval através das árvores
arrancadas ao solo e que são atiradas, num jogo aleatório, contra o que vier a
preceito ser sua presa. Contam-se os telhados que voaram e de que se não sabe
paradeiro, as ruas desfeitas nos vestígios da tempestade, o areal extinto sob o
comando implacável do mar sobressaído, as vítimas finais.
Inventariam-se os danos. É preciso convencer
a vida habitual para um parêntesis enquanto não for possível resgatar as condições
da vida habitual. Esboçam-se planos para pôr as coisas em seu devido lugar, ou
para as substituir por novos sucedâneos. Não se capitula – não se capitula. Não
há temor que amesquinhe a vontade, impedindo-a de atirar o olhar para o
horizonte que se oferece – por mais que, a dada altura, tomado pelas baças
cores, não se aviste firmamento que assim se distinga. É como se fosse
imperativo embarcar numa frágil balsa e derrotar os rápidos de um rio que a
atiram, vertiginosamente, contra vários precipícios. Sabendo que a vontade se
congemina para derrotar os precipícios, mantendo-se a balsa em obstinada
navegação, derramando o nada sobre a provação. E não são os aguçados cornos da
intempérie que liquefazem a firmeza.
O peito é inderrotável. Uma fileira de
pétreos elementos, à prova de maquinações malparidas, à prova de todas as
balas. Por junto, devolvem-se à procedência, sem rasuras sequer, os bastardos gravames.
Deixando a estirpe enlear-se nas teias canhestras de sua lavra, à falta de dano
causado no projetado alvo, condenada ao ergástulo que estava destinado à presa falhada.
Os inventores do boomerang legaram a metáfora que, no uso do indomável cinismo,
garante à procedência o dobro da malvadez que fora desenhada nos cavaletes da
insídia. E depois, fica-se sossegadamente, em primeira fila, a assistir à decadência
em seu desfile fingido. Sem lamentos, nem perjúrio. Ocupando um lugar-tenente
que não mistifica vinganças nem procura um vetusto lugar para os desajeitados
algozes condenados à irrelevância de seu malogro.
A pele é feita de fibra de carbono. Mesquinhos
predicamentos não incomodam o caudal livre e sereno de um rio que é muito
maior. Dê por onde der, de um rio a caminho da embocadura. Com proteção da
fibra de carbono. Ao olhar devolvendo os puros sedimentos matriciais, os que
expulsam a melancolia e o motim, em total derrota dos seus fautores.
Sem comentários:
Enviar um comentário