The Horrors, “Something to
Remember By Me”, in https://www.youtube.com/watch?v=cbOMvegSPpc
Aqueles ostensivos indivíduos que fazem
o tirocínio sucessivo da adivinhação, só para terem o prazer de serem contemplados
pelos outros quando o tempo da adivinhação presta contas e se ufanam de terem
adivinhado as coisas com a antecipação do futuro por acontecer. Aqueles indivíduos
que se convencem da sua predestinação e exigem homenagem a preceito, quando
certificam que foram autores de um oráculo, a seu ver, exato. Parece que se
enchem de contentamento não por estarem convencidos que acertaram no alvo vivo
de uma adivinha; as medidas são enchidas com a presunção de quem se eleva ao
olimpo dos predestinados e exige aplauso que seja a rima certa para tamanho
raro papel.
Não interessa que sejam farsantes:
quase sempre, a distância do tempo entre a autoproclamada adivinhação e a sua
realização é tanta que impede um escrutínio imparcial. Jogam com a bruma da memória,
com a linha franzina dos factos que jogam para cima da audiência, com empáfia,
quando reclamam seus créditos. Contam com a ingenuidade de quem lhes dá palco:
assoberbados com o mérito dedilhado com tamanha prosápia, e anestesiados por não
ser proeza ao alcance de qualquer um o correto presságio depois verificado, nem
procuram tirar a prova dos nove ao crédito posto em vindicação pelos presumidos
donos de um oráculo com formato. Caem no logro. É de louvar, contudo, como há
quem confie sem hesitações na comprovação das façanhas reivindicadas por outros
– mesmo quando uma simples verificação da autenticidade do artista acabaria por
trazer às mãos o jaez de um charlatão impenitente. Fosse farta a matéria-prima
da confiança e estendida aos objetos certos do comportamento.
Há quem assim seja, à falta de
conseguir desempenhar papel que se veja. Entretêm-se com distrações (palavra
que não se escreve com “cç”, como vi sucessivamente escrito há dias por um
aspirante a erudito). Confiscam a si mesmos um lugar relevante, nem que seja
pela interiorização do modesto lugar a que pertencem – a que pertence a imensa
maioria. Exigem um palco elevado sobre os demais e com a luz intensa a
deitar-se sobre eles. Não percebem que é um palco fictício. Ele há gente que
precisa de notoriedade, o seu pessoal oxigénio. Nem que a inventem nos
escombros da memória diluída que não ajuda a escrutinar os feitos apalavrados
através do seu apregoado oráculo.
Este é o mal maior daqueles que ainda não
se convenceram que ao porvir só nos resta deixá-lo chegar, no tempo que lhe aprouver
e com o formato que ele escolher. Adivinhas, só se forem por acaso (logo,
despojadas de engenho para quem reclama sua autoria). Ou em momento puramente lúdico.
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