Toy, “Motoring”, in https://www.youtube.com/watch?v=VDYMjvdCWpc
I
Haverás de limpar os olhos quando sobre ti se erguer a ira
dos demais. Ignora. Os demais. E a ira, deixando-a medrar no regaço pútrido dos
demais.
II
Se forem ininteligíveis as razões do acosso, verte o focinho
dos bestuntos em poluídas águas pluviais. Para ver se aclaram as ideias por
dentro da fétida matéria de que são feitos.
III
Em persistindo a emboscada, pega num livro de poesia.
IV
Sobressaltado pela ingerência sem dó, perfuma o olhar com
as coisas belas que tens como tuas, em teu património.
V
Nos contrafortes da inquietação, não sejas indiferente – a
menos que a indiferença seja o maior ultraje a quem, sem porventura saber,
reclama créditos de atenção.
VI
Inspira o ar puro, mesmo que não o julgues ser mercê da
poluição em redor, ou conta repetidamente até a um número que tenhas como
fasquia.
VII
Não labores na
vindicta, que te sitia num embaraço sem paredes visíveis.
VIII
Acometido por eventos inesperados, recebe de braços
abertos os que reputas de benignos e devolve à procedência os que forem mancha
no currículo.
IX
Atravessa as pontes medonhas, mesmo que estejas trespassado
pelo medo por causa do chão de vidro que as subjaz: a derrota das limitações interiores
arroteia o espaço despojado, onde tudo se compõe de novo na fruição da
liberdade.
X
Desdenha dos malsins da bisbilhotice. Só têm tempo para a
irrelevante tarefa e vidas mesquinhas, profundamente desinteressantes – e a tua,
cativa do olhar alheio, sinal de ser profundamente apelativa (só pode ser). (O
que também não interessa a mais ninguém, se não a ti mesmo.)
XI
Desenha a paisagem sideral num papel amarrotado, ou esboça
estrofes surrealistas num guardanapo de papel furtado à mesa do restaurante.
XII
Mete nas mãos a alcáçova dominante em teu pensamento,
mesmo que te julgues importunado pelo pensamento assim congeminado.
XIII
Aprecia o rio dourado desde o promontório inacessível.
XIV
Recolhe a pontuação máxima na escala das empreitadas
esboçadas em estirador aprumado.
XV
Dorme o justo sono, à hora que convier, contra as emboscadas
espúrias terçadas nos dedos tendenciosos de outros.
XVI
Escolhe as tuas próprias matérias tendenciosas. Em manifesto
espírito de contradição, selando a tua inexpugnável autonomia.
XVII
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