Spoon, “I Ain’t the One”,
in https://www.youtube.com/watch?v=FjDj9JMpAP4
Não é por ser a noite tingida pelos
vestígios do suor, ou por tremer de êxtase na hipótese do desejo. Não é por
alguma vez ter desistido de demandas julgadas impossíveis. Não é por ter a
impressão das fragilidades em sua ampliação, como se diante de mim um espelho
furibundo agitasse os escombros da alma com imagens distorcidas das interiores
inquietações. Não é pelos desassossegos múltiplos (e que os não tem?). Também não
é pelas lentes desfocadas que impedem que as mãos apanhem o dia inteiro com um
gesto singular.
Ele há tantas inverdades que não
apetece saber a sede do seu oposto. Tanta prosápia tumefacta, o sangue podre à
boca de cena, em oposição com a pose extática, que nem apetece lobrigar sobre
os desvalimentos à volta. Talvez o segredo seja o irremediável ensimesmar. À procura
de um lugar onde a solidão apenas seja derrotada pelos mais próximos que
personificam as constelações que não deixam de cintilar enquanto sobre mim
adejam, tutelares. Antes o resguardo contra as convulsões imprevistas, e as
outras que têm data marcada, do que sentir o sangue em ebulição a latejar por
dentro das veias, as veias querendo saltar das margens em vulcânica explosão povoada
por uma nitroglicerina colérica que se sobrepõe.
Não é bom conselheiro, este estado de
alma. Antes um refúgio nas profundezas do ser, fazendo de conta (sim: fazendo
de conta, assumidamente) que nas limítrofes zonas não se encontram os triviais
importunadores – os que atraiçoam os costumes, indignos de um módico de
confiança; mas também os que estes combatem, pela pose sobranceira e pelo
topete das lições de ética que insistem em pespegar, sem para tal terem sido
requisitados. A deflagração interior, no incontrolável movimento reativo, é
dolorosa. É como se tudo rebentasse por dentro e os despojos não tivessem
serventia, sendo inútil pretender arquear a alma sobre o chão e por junto
trazer os vestígios em nova forma, cópia do original; não sobra nada: é de
reinvenção que se fala. E ela pode ser mais pungente do que a explosão sem
freio que trouxe a desolação das ruínas sem remédio.
Muitas vezes não se escolhe o principal.
O tabuleiro contém muitas peças e todas estão fora da torre de controlo possuída
pelas mãos. A gestão de danos é a hipótese sobrante. Precatando o assomo possível
da nitroglicerina futura a que as mãos não conseguem ter mão. Assim como assim,
a nitroglicerina é um temível revólver: pode ser a provisão para desfazer na
macieza do nada os vestígios ásperos da emboscada fermentada no exterior.
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