Ty Segall and the Freedom
Band, “Every1’s a Winner” (live on Jimmy Kimmel show), in https://www.youtube.com/watch?v=pTTc5AQzbKQ
Não tenho a sorte ou o azar por
companheiras de estrada. Não as considero como tal. Não acredito em tais
congeminações, como não acredito em teorias da conspiração. Prefiro outros
azimutes. Estalões diferentes que não alijam a responsabilidade do (por vezes)
incómodo sepulcro da vontade.
Os acasos não são determinísticos.
São acasos, apenas acasos. Que não se extraiam profundas ramificações convoladas
na candeia da sorte ou no bastão do azar. Que não se veja nas taludas improfícuas
o estado (resplandecente ou decadente, em rima com a sorte ou com o azar) de
uma existência em sua jurisdição pretérita. São cabazes cheios de um nada de
onde, por nada ser, não se auguram termos distintos. E se meirinhos especialmente
dotados de esotéricas aptidões alinhavarem um rosário de encadeados
acontecimentos que são o húmus de uma sorte ou de um azar, deixá-los entretidos
com sua facúndia vigarista. Deixá-los no cambaleante papel de pitonisas sem conteúdo,
especialmente vocacionados para serem gurus de gente convencida da sua
desesperança, timorata como não há outra.
Não há rodas da sorte, nem trezes
mau presságio, nem superstições que alinham especiais sinais num mapa mental, nem
gatos pretos que emulam reveses. Não há esse aleatório modo de ser. Não há o
desprendimento da natureza intrínseca no altar do “destino” – como se o fado, generoso
ou iníquo, fosse explicação para tudo o que desagua nas nossas mãos. O que há,
são as nossas arquitetas mãos; e não as mãos como passivos agentes em que
desagua um qualquer fado. Não há proverbial macumba, nem rezas que misturam o
sagrado com o pagão, nem mezinhas sem a caução da ciência, nem ciência motivadora
dos acasos que funcionam como oráculo às avessas.
Somos nós, cada um de nós,
fautores de nós mesmos, sem precisarmos da desajuda exterior. Se vertemos lágrimas
pela desventura frequente, nós é que devemos meter mãos à obra e inverter o
infausto. Se estamos convencidos de uma predestinação, como se fôssemos centrípetos
no universo e Narciso em nós incarnasse, não exageremos do preceituado, que a
maré a favor não dura sempre.
Um trevo de quatro folhas é
apenas um trevo anómalo no meio dos demais.
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