Conan Osiris, “Titanique” in https://www.youtube.com/watch?v=MitlVLt6RO0
Dizem que não é fácil conjugar o verbo “falhar”. A impressão do malogro é – dizem – o interior embaraço de uma incapacidade. Às vezes, mascara-se a incapacidade, substituindo-a pelo infortúnio; e como o infortúnio é um jogo de acasos, intui-se que o mal acaba por ser exterior e o insucesso é apenas uma vírgula das circunstâncias. Outros há, empenhados em apurarem uma diligência excessiva, que se consideram falhados incorrigíveis. Tudo o que fazem é um erro, termina com um final não intencionado e com efeitos inesperados que, se pudessem ser desenhados, não eram benquistos.
Eu digo: falhar é um sucesso. Implica um ato. Em pior condição estão aqueles que, timoratos, se enovelam em hesitações e capitulam no altar da inércia. Alguns, por lhes ser inata a indecisão. Outros, por temerem os resultados não esperados e porventura apocalípticos do que fazem. Ajuízam o nada como preferível a algo que pode desaguar num fiasco. Têm um medo estrutural. Devem sentir-se constantemente acossados. Imersos no pânico da terrível indecisão: se fizerem de um modo, temem os seus maus efeitos; se alinharem pelo seu contrário, sopesam meticulosamente a plêiade de falhanços que se congemina como possível efeito. A catástrofe está sempre à espreita sob o ombro de qualquer ação.
Eu digo: temos de convocar a responsabilidade da ação. Por mais catastróficos que sejam os efeitos. Pois a capitulação perante o nada é domínio da mais recusável têmpera em que pode nidificar alguém. Não somos amibas. Somos seres empenhados ao império da vontade. Temos em nós os mecanismos necessários para ajuizar os possíveis efeitos das ações que nos sejam cometidas. Temos lucidez para as distinguir no lado favorável e no lado ermo do malogro. E temos capacidade para juntar todas estas peças num todo que catalisa a ação num determinado sentido. Com a consciência da responsabilidade que se junta aos efeitos desenhados como possibilidades. E se houver um acaso que nos atira contra a parede dura do falhanço, a única resposta que não podemos dar é um lamento e o consequente arrependimento. O lamento e o arrependimento nada resolvem. Nem apagam do tempo pretérito as ações conduzidas a um falhanço e não restituem às possíveis vítimas (intencionais ou apenas colaterais) a posição anterior ao ato que as atingiu.
Falhar é um sucesso. Na exata medida da aprendizagem que cultiva. Não será lugar-comum dizer que aprendemos com os erros. Por mais que se repitam, pois não se pode banir o lugar ao erro. Falhar é um sucesso nessa medida, e também porque quadra com a recusa da inércia, que não é coerente com a soberania da vontade.
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