Joy Division, “Twenty Four Hours”, in https://www.youtube.com/watch?v=VnM9X0IgUmg
As linhas que se projetam das mãos fundem-se nas nuvens estáticas. A falsa sensação de fausto anestesia as pessoas. Em demanda de refúgio, descobre um povoado onde as insaciáveis misérias da alma encontram porto de descanso. Subindo à cumeeira, onde o ar respirado é paradoxal (mais límpido, mas rarefeito), encontra a arena extática sem contratempos por perto. Sozinho, imagina as paisagens bucólicas escondidas em cada fragmento da imagem. As mãos estendem-se, como se desenhassem a paisagem. A sucessão de montes e vales, os rios escondidos, as florestas que entrecortam a aridez das montanhas, uns leves arabescos no céu em forma de rudimentares nuvens, e o suor que se despede da pele enquanto os olhos repousam no torpor do miradouro, reinventando a gramática interior. Há um indecifrável equívoco que atravessa os veios da alma. A dorna onde o sono se extingue, prematuro, verte uma certa tumefação. Não sabe de onde provém o desassossego. Talvez esteja errado e o desassossego não seja caução do sono amputado. É um desassossego heurístico. Sede sem freio pelo conhecimento. As tornas em forma de interrogações. Diligente, o raciocínio desatrela-se da letargia. Salta todas as fronteiras, como se fosse um meteorito à espera de beijar uma porção de chão. Provavelmente, este desassossego coloca-o na posição de pária, ou, na melhor das hipóteses, como aberração. Não importa. Não pode transigir com outro critério. Hasteia o rosto impressivo diante das janelas que, de abertas serem, estão de atalaia ao que vem depois. Os jardins aformoseiam-se à espera do cunho do futuro. Esse é o desassossego, a impaciência de não aceitar a espera pela espera que não pode ladear. Há um tempo furtivo que ladra ao ouvido, repetindo as mesmas frases que chegam a ser ininteligíveis. O desassossego não é um lúdico estandarte que se consome na frivolidade de si mesmo. É o penhor das equações que transformam a matéria árida em pedaços de ouro, sem preço.
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