31.7.25

Medalhas olímpicas

The Hard Quartet, “Killed By Death” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=d8hIGqj3k-8

Quero ser a pátria das proezas, denominador comum máximo das bocas que inventariam os modos de acarear o tempo. Um sufrágio portentoso, arrancado ao luar singular que emoldura a noite desconfiada. 

Às vezes sou destemido, a loucura tomando conta de mim, e torna-se fácil pegar as decisões de caras, mesmo que sejam as decisões mais caras. O rio caudaloso é apenas um adereço bucólico que combina com a mansuetude do dia. As vozes são sibilantes, gentis, como se os espanhóis tivessem sido extintos (ou tivessem todos ido ao otorrino).

O que faço com as proezas? Ficam a adejar sobre o presente como prova de vida do passado, como autênticas emboscadas da nostalgia? Demoramos a aprender que o código genético do mundo é efémero; quando aprendermos, já o efémero ficou para trás, enquistado num passado imóvel. A aposta que se emancipa é na perenidade, sem se perceber como ficamos reféns de uma medida estática que nos condena a sermos uma fração apenas. O que ninguém aprende é a traição constante do tempo; ou melhor: como nos sentimos traídos pelo tempo quando o erro sistemático é nosso, que fingimos não entender as sucessivas camadas do tempo e de como elas se colocam num fio contínuo.

Se em vez de colocarmos o olhar oblíquo sobre o dia observado o olhássemos de frente, não seríamos a covardia de quem teme errar. O erro contém o seu próprio antídoto. Não é o machado que cai, implacável, sobre os dorsos curvados dos profetas do erro. Empresta os instrumentos que são necessários para aplacar o erro que virá com o tempo vindouro.

Não ando à procura de conclusivas descobertas que findem pendências por dirimir. Já escolhi a pátria que prefiro e essa é a pátria que arregimenta as interrogações sistemáticas. A melhor das medalhas, das olímpicas e das outras, que pode cair no regaço em espera.

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