3.7.25

O arnês desapertado

Idles, “Beachland Ballroom” (live From the Basement), in https://www.youtube.com/watch?v=caeOaPDgNwE

O arnês é obrigatório. Depressa militam os favores da segurança, só para lembrar às pessoas, caso estejam esquecidas, que as vidas são incalculáveis. As forças que se congeminam atiram os corpos de um lado para o outro. Eles ficam à mercê da força da gravidade. Podiam ser cuspidos para longe, caso o equipamento não estivesse servido de arneses.

É para escorraçar o lamento das perdas de vidas que os arneses são imperativos. Ao contrário dos argumentos dos pessimistas, as pessoas sabem avaliar os riscos que correm quando se propõem a uma certa empreitada. Se intuírem que a vida corre riscos, agarram-se aos dispositivos de segurança que limitam esses riscos. Aprenderam a acautelar a sua vida com as campanhas de vacinação que erradicaram doenças que levavam vidas prematuramente. Aprenderam a segurar pessoas e bens para não ficarem à mercê de contingências. Aprenderam a apertar o cinto de segurança mal entram num automóvel. Aprenderam a usar capacete se circulam em motociclos. No circo, os trapezistas aprenderam a não cometer a loucura de desapertarem dos arneses. Aprenderam a usar contracetivos para controlar o crescimento da população (e agora estão arrependidas). Aprenderam a não fumar em restaurantes e outros lugares sem acesso ao exterior, para defesa da sua integridade física.

Mas há sempre dissidentes. Gente que preza ser diferente da maioria. Ou gente que desafia as proibições e as imposições e age em sentido contrário, fazendo o que é impedido ou escolhendo a omissão quando tinham um dever de ação. Ou ainda gente que, desafiando as convicções dos mais otimistas, desconhecem a informação que os levaria a ter cautela e a proteger vidas e haveres contra a maldição do inesperado.

O espetáculo das exceções pede meças ao muro onde as lamentações depois surgem como uma contradição de termos. No circo, um dos homens que conduz as motoretas no poço da morte finge que se esqueceu de apertar o arnês. A certa altura, saiu disparado da motoreta. Parecia o homem-bala.

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