“Close the windows,
clear up the myths,
it’s gettin’ late.”
Começava pelas palavras não ditas. Por que não foram ditas? Seriam palavras malsãs, palavras agressoras, palavras beligerantes, no que a beligerância pode conter de não-violência? Palavras congeladas, outras quase a caminho do esquecimento? Fecundaram silêncios, curtos ou prolongados, permanentes ou entrecortados por outras palavras independentes desses silêncios?
Há silêncios que podem ser gongóricos. A sua complexidade omite-se atrás das cortinas em que o avesso dos silêncios soa como matéria-prima de palavras indesejadas. As palavras condenadas ao silêncio são indesejadas para quem as ouve e para quem as projeta. Às vezes, um silêncio é um ato de bravura. Uma audácia só ao alcance dos que sabem medir as palavras e, pela sua medição, intuem que o silêncio é a palavra de ouro.
Outras vezes, o silêncio é um recurso impiedoso que fere mais do que mil palavras juntas. Um silêncio pode ser violento. O som do nada a ocupar o espaço, dilatando a medida do tempo como se ele durasse mais do que o tempo que sobe à boca de cena. São os silêncios que entram fundo na carne, dilacerando-a como as palavras mais dolorosas não conseguiriam. São silêncios gongóricos. Equivalem aos pesadelos que entram no sono com tanta nitidez que nem o acordar os rompe de imediato. Ardem sem chama, sem deixarem de provocar abrasões.
O ponteiro da bússola hesita entre o silêncio atravessado e as palavras arriscadas. Há palavras que podem não ser anjos, como há silêncios que não se entretecem na aura dos inocentes. Um silêncio pode ser tão culpado como mil palavras acusatórias. O corpo hesita entre o silêncio gongórico e as palavras daninhas. Corre atrás do tempo, consumindo-se entre o abismo e a terraplanagem de todas as arestas vivas. Uma luta interna entre ser demónio dissimulado e demónio avivado.
Ou então, a hábil mobilização da vontade para travar que tudo seja tão excessivamente binário convoque o mediador que viva escondido atrás de todos os disfarces. Traduzindo silêncio em palavras à medida, na sua exata medição para não serem objetos agressores. A História está trespassada de exemplos que provam como o sangue quente trava o curso da sensatez. A moderação fica à mercê de um combate de opostos, entre a aridez do silêncio doloroso e a ossatura das palavras daninhas.
Sem comentários:
Enviar um comentário