31.12.25

LXV

This Mortal Coil, “Drugs”, in https://www.youtube.com/watch?v=rbHPWlhJ4JQ

“Somebody said ‘there’s too much light’.”

         Glosem as estafetas de todos os géneros: tudo tem uma fronteira a delimitar, uma fronteira que se compõe para ser passada: ou pela mesma pessoa, termos em que a fronteira não é um embaraço para quem a queira atravessá-la; ou por pessoas diferentes, quando as coisas só possam passar de mão em mão entre diferentes pessoas. O tempo encaixa-se em delimitações que são candidatas naturais a fronteiras que o delimitam. Nem todo o tempo se predispõe à metáfora da sua fronteira própria. Todo o tempo, desde que propenso a métricas diferentes, oferece-se a uma delimitação; mas há passagens entre diferentes dimensões do tempo que se candidatam a serem expoentes máximos da sua transição, como se dependessem de estafetas que unem a dimensão anterior com a ulterior. Não é a transição de um minuto para o seguinte, que de tão regular e rotineira desaparece no nevoeiro da indiferença. Já é mais a sucessão de dias, cujos início e final se materializam na meia-noite dos relógios. Para os trabalhadores, é o dia do mês em que o salário aparece na conta bancária. Ou um aniversário, que só coincide com o ano civil para os que o celebram no primeiro dia do ano, para os outros mostra como o calendário é artificial (um ano da sua vida tem de caber dentro do calendário estabelecido). O último dia do ano é o candidato de excelência a desempenhar o papel de estafeta. Transporta todo um lastro de trezentos e sessenta e cinco dias, em cima de muitas vezes vezes trezentos e sessenta e cinco dias que vão lá atrás. Esse é o legado depositado nas mãos da estafeta que entrona o ano neófito. Este carrega todo o peso do pretérito depositado nas suas mãos. É uma responsabilidade extravagante para um ano que acaba de nascer.

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