dEUS, “Everybody’s Weird” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=rHSobYDbNCY
“You’re stepping on my sun.”
Ninguém fala do pelotão de trás. E o que seria dos aclamados campeões sem os outros todos, anónimos e que se limitam a fazer número para a ditadura das estatísticas? Os olhos deitam-se nos eleitos e desprezam os outros, que seguem atrás e não conseguem acelerar assim tanto; parecem tolos. No proveito dos lugares-comuns, diz-se que a História não contempla os fracos. Mas serão fracos os que ficam para trás? Se fossem fracos, distinguir-se-iam dos demais, os que nem sequer entram nas competições às quais só são admitidos os que são de elite? A propensão para castas que funciona em detrimento de tanta democracia ensinada nas escolas e praticada com entorses pelo resto do tempo. Não se apregoe a igualdade a não ser num lírico estendal onde se fingem princípios impraticáveis. Pois ninguém fala do pelotão de trás. Ninguém sabe o nome do atleta que cortou a meta no octogésimo terceiro lugar, nem do atleta que fechou o concurso, o que ficou no centésimo sexto lugar. Os nomes omitidos são vítimas de uma injustiça como as muitas injustiças que qualificam o mundo. Deles não se diga que se esforçaram menos. Deles não se diga que pouparam em sofrimento e que a ordem dos concorrentes é definida na exata medida desse sofrimento. Os nomes omitidos são tão nomes quanto os nomes daqueles que todos sabem quem são. Devia haver jornalistas com a função concreta de noticiar apenas os que engrossam o pelotão de trás. Seriam proibidos de nomear os atletas que ficassem nos primeiros dez lugares. Sob pena de os nomes desses jornalistas serem temporariamente banidos. E aqueles que andassem no pelotão da frente seriam demandados para nomear o adversário classificado em quinquagésimo sexto lugar, por exemplo. Se não acertassem, perdiam a taça do dia e seriam obrigados a conviver com o pelotão de trás durante um mês inteiro.
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