Lush, “Lit Up” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=U2qbMP4YSu0
“You can get from here to there
by leaps and bounds or measured steps.
You can make it dark or fair
depending on your point of view.”
Vulgo: causar boa impressão. Será para obnubilar outras fragilidades, assim escondidas à mercê dos efeitos espetaculares causados pela boa impressão junto de anónimos? Ajuíze-se a intenção: o reconhecimento externo é imprescindível para a autolegitimação. Para que o sono seja sereno e, no dia seguinte, se acorde com a sensação do dever cumprido. Os outros, tão vilipendiados em circunstâncias diferentes, são a medida da legitimação.
Pode-se causar uma boa impressão logo na primeira tentativa. É mais difícil. Exige um apuramento da medida sujeita à impressão nos outros, que ficam estonteados com tamanha qualidade ou com a erudição exibida como prova acessória da qualidade do que se escreve ou do que se fala. Se a primeira impressão não for retumbante, mantém-se o esforço para uma segunda impressão. A qualidade do objeto que os sujeitos são desafiados a avaliar pode até ser a mesma; o que mudou foi o olhar dos que foram convocados para a avaliação, porventura agora mais atento. À primeira impressão, não se causou grande impressão. Mas a segunda satisfez o objetivo.
A impressão pode ser causada por meios acessórios, laterais ao propósito da incumbência. Pode-se, por exemplo, exagerar nas provas de erudição só para impressionar a audiência, que fica boquiaberta com a bagagem cultural de quem se socorre a citações que imortalizaram autores. Convém que a prova de tanta erudição não seja descabida. É obrigatória a ligação entre o contexto e a citação que demonstra erudição. As citações são obtidas com facilidade, agora que tudo está à distância de um computador e do acesso à rede gigantesca que circula a uma velocidade estonteante.
A mensagem podia passar sem o adereço da erudição. Este é o critério de apuramento da utilidade da erudição: sem a citação que prova o estatuto de erudito, a mensagem era diferente? Muitas vezes, impressionar através das credenciais de erudição é um gesto gratuito. A erudição pela erudição, sem utilidade para a mensagem exposta, é um ato ostensivo. É impressionar por impressionar, num gesto vaidoso de quem esfrega credenciais nos rostos dos outros. Passar por erudito não garante que quem o faça seja erudito. A posse de tamanha erudição pode ser um meio de conferir autoridade intelectual a um argumento. Se, em socorro da tese, vier uma citação carregada de autoridade intelectual, é a autoridade intelectual da tese que ganha um reforço. De resto, a ostentação da erudição corre por conta do propósito de impressionar os outros. Se ficarem impressionados, aceitam mais depressa o argumento sem o contestar.
Os que recorrem à erudição para impressionar os demais praticam ativamente o totalitarismo do pensamento. Agarram-se à erudição como expediente que garante autoridade intelectual. É um golpe baixo. Ninguém precisa ser confrontado com a ufana exibição de credenciais eruditas. Fá-lo-á quem estiver inseguro do que escreve ou do que diz.
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