Love and Rockets, “Waiting for the Flood”, in https://www.youtube.com/watch?v=fI5eZK9omoA
“I will sing my freedom song.”
O ângulo morto morreu e ninguém fez um funeral. Rima com o olho cego que muitos tomam como anestésico quando convém. É como se um eclipse caísse inesperadamente, sem pré-aviso dos peritos e bombardeamento noticioso da imprensa, e uma parte significativa do que se oferece até ao horizonte saísse do campo de visão. Pode não acontecer nos termos de um sonho qualquer contratualizado. É apenas uma tática menor para omitir certos acontecimentos ou certas pessoas do plano inclinado que se abate sem compaixão. Reage-se à crueldade com fingimento. Ou um disfarce de fingimento: ficam sem saber se um fingimento disfarçado se anula nos seus efeitos (como as leis da matemática ensinam que dois negativos fazem um positivo), ou se o disfarce de fingimento o desdobra para dimensões dantes escondidas. Fogem para trás do ângulo morto só para não serem forçados a ser testemunhas do indizível. Já lhes chega o azedume e a aspereza com que o mundo lhes chega sem aviso prévio. Às vezes, gostavam de ser como Camões: não lídimos poetas, porque estão longe de poder dizer que a genialidade lhes é intrínseca; como no poeta quinhentista, escondem o poeta atrás de uma venda cetácea para a luz não invadir um olho arrancado à perspetiva. E olhar para as prateleiras onde se empoeira o tempo vindouro só para saber que há uma parte do conhecimento que oxalá fosse desconhecida. Um toque mágico podia ser bastante para emproar a venda num olhos fingidamente cego. Antes não ter muito no campo de visão se a abdicação do horizonte contentar o espírito e repudiar a angústia. Servindo a encenação despudorada sem receio de ser condenado a pária. Oxalá não fosse de mais o cultivo deste fingimento medicinal.
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