24.12.25

LX

Björk, “All is Full of Love” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=yDYMfm0JQOE

“Beyond reasonable doubt.”

      As reivindicações esgotaram-se na impassibilidade dos generosos. De repente, era como se a bondade tivesse sido extinta. Ninguém deu conta. Os dias continuaram a desfilar pela máscara do tempo. As vozes sibilavam as farsas constantes. Havia fingimento a rodos. Ninguém percebeu que as coisas tinham mudado, como se se abrisse um portal por onde as pessoas passassem e, a seguir, ficassem admiradas, ou apenas talvez pasmadas, por entrarem num lugar desconhecido, comportando-se como forasteiros num lugar desconhecido. E, todavia, a extinção da bondade não devia ser um lugar desconhecido. As desconfianças, sendo sempre recíprocas, eram o cimento da extinção da bondade. Não importava que fosse véspera de Natal. As pessoas levavam o Natal como uma farsa. Por exemplo: desejam feliz Natal umas às outras, às conhecidas e até às desconhecidas – uma convenção habilitada pelos módicos de cortesia que insistem em cumprir no trato social, mas a que depressa renunciam quando se inclinam para o trato habitual. O que deseja uma pessoa à outra quando lhe dirige o consuetudinário “Feliz Natal”? Deixa à consideração do destinatário, ele ou ela que faça com o seu Natal o que lhe aprouver? Existe uma definição de Natal feliz? É possível medir, num termómetro de felicidade, um Natal após outro e olhar para um gráfico de tendências para perceber se o propósito da felicidade natalícia está em alta ou em declínio? A crer na extinção da bondade, a maioria das pessoas terá entendido que desejar um Natal feliz aos outros é um sofisma. Descobriram que o Natal não é feliz porque é uma tentativa de exílio dos outros dias do ano. Quando se força uma coisa a sê-la em contrafação, o mais certo é que o resultado seja pior do que na hipótese de inação. 

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