5.2.16

Que ninguém se tome assim tão a sério

Mudhoney, “I Like it Small”, in https://www.youtube.com/watch?v=7511NXJNV8o    
(Dedicado às pessoas que têm de si muito elevada consideração.)
É possível que o espelho lá em casa amplifique a dimensão de quem nele se fita, adivinho que demoradamente. Em sendo tão elevada a dimensão, não seria imoderado reagir com virulência quando alguém escarnece de tamanhas sumidades. Assim como assim, e tomando de empréstimo um adágio popular, não é filho de boa gente quem não acusa o toque.
Mas não é preciso exagerar na virulência. Não é preciso tomar parceria com a verborreia desbragada para contra-atacar o ofensor. Um dia destes, ainda saltam umas ideias túberas pelas hemorroides e fica um desarranjo que nem convém imaginar. Porventura achacados com o motejo, deliberam ser necessário ripostar e, se possível, em medida desproporcional. Como quem diz, para chiste de que se é “vítima” (e esta palavra contém em si um programa de equívocos, como vou tentar provar depois), virulência a rodos e demolidor julgamento de personalidade de quem teve o topete de lubrificar o motejo. Duas modestas objeções: primeira, isto não traz saúde, a apoplexia fica à mão de semear quando a linguagem imoderada e os ataques soezes são o combustível do contraditório à judiaria de que se foi vítima; segunda, gente importante desta estaleca nunca terá escutado outro naco de sabedoria (desta vez, não de sabedoria popular), de acordo como o qual a indiferença é a melhor resposta quando somos incomodados.
Até podia arrotear um caminho alternativo: as pessoais importunações devidas a ultraje cimentado por outrem nem sequer deviam ser o fermento de uma importunação. Se houvesse método interior que convencesse que não nos devemos levar muito a sério, os escarnecimentos alheios sobre a nossa pessoa seriam olimpicamente encaixados sem dano visível. Mas isso esbarra naquelas pessoas que, talvez por gene narcisista, se têm em muito elevada consideração e dão asas à desconchavada petição de princípio que nos injeta virulenta reação quando achamos que a honra é estragada pelos outros. Se não nos levássemos tão a sério, e se “infâmias” destas tivessem uma abordagem lúdica, nem sequer fazia sentido alguém considerar-se “vítima” de uma troça.
Quando for preciso, darei o flanco. Provando, com um sorriso no rosto e um olhar sobre o luminoso dia existente, que não me levo a sério. Façam o favor de me terem por intérprete de pegas de cernelha (apesar de detestar tourada), de insinuarem que sou covarde, de parodiarem o meu rosto por não ter tamanho para ser esbofeteado, ou de apoucarem o meu trabalho (mau grado, esse sim, ser sério). Tanta incontinência verbal e tantas promessas de violência (o método de quem não tem outro recurso quando falta o resto) são escusados. Tiram o sono e anos de vida aos seus autores.

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