18.2.16

Da boçalidade

Tame Impala, “’Cause I’m a Man”, in https://www.youtube.com/watch?v=NLg-Kqa9vEo
Os balneários de ginásios (e, adivinho, os balneários dos lugares onde se praticam desportos coletivos) são um laboratório vivo onde se aprende muito sobre a condição masculina – o que não implica que se aprenda grande coisa. O mesmo é dizer: fica-se catedrático da boçalidade por observação direta dos seus espécimes diletos.
Não sei se os vapores que se contagiam do banho turco provocam o efeito de turba, mas há homens que passam de boca em boca (passe a expressão, para não ferir a varonil condição destes espécimes) a boçalidade como fator intrínseco da masculinidade. Para ser homem, “homem a sério”, há que ser ufano de grandes comezainas onde os comensais se alambazam alarvemente com as iguarias, bebendo até quase caírem para o lado de exaustão etílica. É preciso gabar as conquistas junto do sexo oposto (mesmo as que apenas contam no rol dos sonhos). É imperativo gabar as proezas do sexo (até as imaginadas, ou as narradas através de interposta pessoa, talvez também um embuste na matéria). É preciso dizer que as mulheres gostam de ser tratadas três degraus abaixo na escala da dignidade onde eles, varonis personagens, se colocam três degraus acima delas, pois então. É preciso gabar outras façanhas (que consideram) exclusivas do masculino sexo – a caça, o futebol discutido com o espírito de claque, a tourada, ou outros modismos que mudam com as circunstâncias (os gadgets, os jogos, os trejeitos que confecionam uma nova masculinidade que, todavia, não se desprende de um sentimento de casta que eleva a homenzarrada aos píncaros e desvaloriza as mulheres).
Eu confesso: ouço-os a destilar prosápia e não me vejo um entre iguais. Não me importo de arrostar rótulos varonilmente pespegados que soam a apoucamento, como o fazem quando se referem a homens que não comungam da boçal condição, logo arrumados num canto onde jazem os “homens pela metade”, ou os “maricas” sem, todavia, serem homossexuais. Prefiro, e de longe, não ser conotado com estes marialvas acéfalos que se excitam com a “conversa de homens” – as mulheres gostam de “apanhar na tromba”, gostam de sexo à bruta, onde o prazer é reservado aos varões (se elas não tiverem o topete de lá chegar primeiro), e mais os charutos cubanos, ou o vinho da última colheita que convém ser bebido em doses industriais, ou o automóvel que é o último grito da moda (e de como o automóvel, nestas conversas, parece uma continuação do falo de quem deles fala, e daí a “potência” bruta, difícil de domar, como eles se gabam de ser quando ventilam, para que os quiser ouvir – e para quem, estando em redor, não tem outro remédio – a detalhar as proezas do sexo).
Ouço-os a vomitar boçalidade. E a tresandar a uma futilidade pré-histórica que os deixa num lugar histriónico. Sem darem conta do risível que são, por em tão tristes figuras se emaranharem. Quase apetece dizer: viva as feministas (mas falta o quase, um grande senão).

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