Chairlift, “Amanaemonesia”, in https://www.youtube.com/watch?v=98XRKr19jIE
As neves frias do inverno deitam-se nas ramagens nuas
das árvores e nos arbustos debulhados. Assentam delicadamente, acamando-se nos
arbustos e nas árvores. Como se estivessem a pedir desculpa pela aflição cominada.
Ninguém disse às neves invernais que não são uma engrenagem demoníaca na
constelação dos elementos. Ele há crianças extasiadas com a neve e até adultos
se perdem no enamoramento de um manto de alvura a atapetar a paisagem.
Além disso, diz-se que o frio conserva. O frio prepara
os elementos para as estações vindouras, quando a hibernada natureza
desabrochar ao sentir os primeiros dias soalheiros, a primeira temperatura
amena. As raízes não sofrem a importunação da neve gelada que se deitou sobre
as árvores e os arbustos. Aos flocos de gelo que se demoram, cristalizando-se, as
raízes vão beber a água que precisam para o tirocínio da fertilidade na
consagração da primavera. Uns tempos depois, quando a paisagem recuperar as
cores não tomadas pela alvura do nevão, hão de medrar os primeiros rebentos de
uma sementeira fértil.
As flores não querem ser madraças ao convite do tempo.
Vicejam, coloridas e balsamadas, nas hastes das ramagens que irrompem ao
convite do tempo propício. Abelhas de sentidos apurados ensaiam a sazonal
coreografia. Abraçam as árvores floridas e os arbustos que exibem um mirífico
colar de flores garridas. Alimentam-se nos pólenes que ostentam a erupção dos
sentidos imanente à primavera. Mais tarde, hão de confecionar o mel que adocica.
O mel timoneiro que empresta prazer aos sentidos emergentes. Os olhos
impregnados de arroubos parecem guiados até ao mel das flores – ou, em sua
falta, às flores que emprestam a matéria-prima ao mel que é predicado dos admiráveis
sultões dos sentidos clareados.
Os sultões ensinam como apreciar, na medida bastante, os
deleites do mel das flores. Convidam os demais a sentirem a voluptuosidade do
mel segregado pelas abelhas. Das abelhas que arrotearam a orgia das almas
retratada nos campos de flores em substituição da paisagem dos arbustos
desossados. Na medida certa: pois como o mel quando vertido em doses demasiadas,
o dulçor pode-se absolver de encantos por náusea causada por exagerado consumo.
Descontando esta advertência, apetece deitar o corpo no untuoso mel das flores
e deixá-lo ser o alívio que amacia a corpo, paredes-meias com a existência
total.
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