Nick Cave ft. Blixa
Bargeld, “Wild Rose” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=n3TDs7lb3is
As coisas fáceis, por serem fáceis, tornam-se um fastio.
Embarcar com a multidão e gritar em coro, desajeitando os dissidentes, é
empreitada que não apetece. Nem apetece nadar ao ritmo da maré, ou deixar vogar
o corpo no sentido do rio. Ou descer uma rua empinada. Ou torcer o braço, num
braço-de-ferro, a um adversário que se sabe ser, à partida, mais fraco. Ou humilhar
outros – sem qualificativo quanto às vítimas da humilhação. Ou desdenhar pelas
costas. Ou ser hipócrita. Ou correr a favor do vento. Tudo artes fáceis que não
cativam um módico de entusiasmo.
Não é estimulante alinhar nas maiorias. Mesmo que venha
com custos de coerência, pois posso mudar de posição apenas para fugir da posição
de antes que, a certa altura, passou a ser afeiçoada por gente de mais. Correr a
favor do vento não importa. Não conta para as contas que interessam. Correr a
favor do vento é um logro. Uma emboscada aos ventos indomáveis que incensam as
veias. E esses ventos é que são um desafio que excita. Pois são esses ventos
que transformam um nada em originalidade. E a originalidade, nos antípodas das
coisas fáceis que são uma ostensiva persuasão dos sentidos, cimenta a satisfação
interior.
Mas, e depois? Depois da proeza, nem que seja aquela que
apenas o seu autor reconhece (afinal, a mais importante, anónima aos olhos
outros), o que sobra? Já se dobrou a meta depois de uma correria árdua contra
os ventos cruzados e tempestuosos. Os ventos agressores quase chegaram a intuir
a abdicação da tarefa. A perseverança triunfou, dobrou o braço às
contrariedades. A impressão da proeza sobe à boca ao cruzar a meta, ao saber
que o destino não fora errante, por mais contrários que fossem os ventos. A
consumação da façanha não autoriza celebrações. Se não, as celebrações soam a
corrida a favor do vento.
Depressa a proeza se esvazia num instante. Que sobrem,
ao menos, interrogações lançadas ao tabuleiro onde se jogam os ventos
vindouros. Para saber onde voltar a correr contra o vento. Para apaziguar as
tremendas dores que tudo consomem só de suspeitar que, nem que seja por inércia,
corro a favor do vento.
A maldita semente da contradição é um bem-haja irrecusável.
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