Courtney Barnett, “Nobody
Really Cares if You Don’t Go to the Party”, in https://www.youtube.com/watch?v=2ZOGlFdReMM
(Em contramão com a cortesia)
A cortesia mandava dizer sistematicamente sim às
solicitações. Às fáceis e até às que pareciam difícil demanda. Apareciam conhecidos,
gente do trabalho, desconhecidos e havia um sim para oferecer como resposta. Até
naquelas alturas em que uma pulsão interior suplicava pelo não, da boca
soltava-se um sim indesejável. O sim metódico dera origem a alguns
arrependimentos. Alguns, logo após o consentimento ter sido acordado. A mortificação
era a dobrar. Primeiro, porque um quase irreprimível alter ego, a domá-lo pelo
interior, dissera o contrário do que julgava ser adequada resposta. Segundo,
porque tendo dado a palavra, não tinha coragem para se desdizer. Tanta era a
dificuldade em dizer não.
Mas como o travão interior semeara tantas
contrariedades, como a inexplicável propensão para contentar quem se lhe dirigia
à espera que a resposta fosse anuição, um certo dia incorporou a necessidade de
desfazer os entraves que por dentro impediam a alocução do não mesmo quando a
negativa era a réplica desejada. Era preciso aprender a dizer não. De preferência,
sem perder o rosto consabidamente simpático, sem abdicar dos pergaminhos de
cortesia que eram (julgava) imagem de marca. Demorou a perceber que a melhor
projeção da imagem é a recebida pelos interiores mecanismos do julgamento. Quando
discerniu, e os alicerces todos tremeram como num poderoso terramoto, aprendeu
que a dificuldade em dizer não era apenas um ardil comandado pela voragem de
contentar os outros. E de se achar contente porque tinha contentado os outros. Naquela
altura, começou a perceber que dilemas ajuramentados por soluções em sua punição
não era critério do seu interesse. Depressa aprendeu a dizer não. Tão depressa
tirocinou no não, que a páginas tantas já não sabia se não dizer que não. Mesmo
quando os impulsos por dentro convocavam um sim e o sim não fermentava sequer hesitações.
Agora já não era cortês. Já não primava pela simpatia e
pela cordialidade, nem dele se dizia que colaborava com os outros. Depressa entrou
em degredo, decretado pelos outros que começaram a esbarrar em sucessivos nãos.
Mas já não havia nada a fazer. Aquilo era matéria acasmurrada. E radical. Tão depressa
desceu do púlpito dos consentimentos militantes para a denegação sem remédio.
A dificuldade era em ser moderado.
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