Her, “Five Minutes”, in https://www.youtube.com/watch?v=sqM3APrfijU
Maus conselhos. Alternativas abortadas. Olhos embaciados
pelo fulgor de um verso afinal atulhado de nada. Maus conselhos, outra vez. E o
transcendente direito de ter opinião sobre a vida dos outros. Formulando juízos
contundentes sobre as andanças alheias. E medrando numa tremenda incapacidade
para mergulhar no seu interior, para apreciar o estado às vezes calamitoso em
que a alma própria se encontra.
Dito de outra forma: as esquinas do mundo não são
lugares confortáveis para deitar o olhar nas almas outras. Pois a ninguém é
conferido o dom de se transfigurar na alma outra anatomizada. A ninguém é,
sequer, permitida a ousadia de tirar as medidas ao sangue que corre em veias
que não são suas. Ninguém é tutor de almas outras se não da alma própria. Oxalá
a espécie aprendesse. Oxalá não houvesse gente que se amesquinha (sem, contudo,
dar conta) ao querer subir a um púlpito de onde assina decretos e sentenças
sobre as outras almas. Decretos sem consulta e sentenças sem recurso, que a
presciência dos julgadores não admite reticências.
Fico encantado com a possibilidade de exibir oposição
quando chegam ao ouvido sentenças subliminares que sobre mim julgam atitudes. Apetece
transgredir. Apetece escorregar para a notória incoerência, se a incoerência
for precisa para a provocação de quem se julga julgador da alma minha. Apenas para
deixar solevar o prazer da contramão. Pois a contramão é o critério ajuizado
para responder aos distintos magistrados que apuram a validade das almas
outras.
Os banhos medicinais de que a alma carece só podem ser
determinados a partir dela. E se a alma teimosamente escolhe a transgressão,
que se façam funcionar os mecanismos da justiça dos homens caso a transgressão
assuma foros de crime. Caso contrário, nem sobra agradecimento pela generosa
atenção que os lídimos curadores de almas (que julgam) tresmalhadas dedicam a
essas almas. É cuidado que se dispensa. Os banhos da alma resultam de uma introspeção.
Em caso de dúvidas que persistam, aconselha-se os
putativos curadores de almas tresmalhadas a sondarem a etimologia de “introspeção”.
Na sua natureza, um ato individual. Como o que diz respeito ao apuramento do
deve e haver das almas.
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