Sigur Rós, “Óveður”, in https://www.youtube.com/watch?v=p4rf-C_smLs
Visionários e penhores da originalidade são um bem público
para a humanidade. Em momentos de rara sagacidade, quando se desabotoa um naco
de pensamento singular, oferecem legados às ciências, às artes, aos
comportamentos. Teorias improváveis, invenções que ajudam à medrança da
humanidade, originais aglutinações de palavras que fazem avançar a literatura,
ou qualquer outra forma inovadora de fazer arte, ciência, ou de estar perante o
mundo.
(Não contam, nem são para aqui chamados, os fraudulentos
visionários que se acham em sobredotada condição e reivindicam uma presciência
em áreas do conhecimento só porque julgam que uma conjugação insólita é
suficiente para ser tida como pensamento desassombrado que merece a franquia
das portas do olimpo. Os bastardos que se põem diante de um espelho feito à sua
medida só com o propósito de devolver uma imagem amplificada, mas falsa, de um
tamanho tanto que só existe na sua pequena mente. Não contemos, pois, com os
pobres que se acham ricos de pensamento só por bolçarem nacos de uma coisa inverosímil.
Nem os miseráveis que se pelam por massajar uma erudição de enciclopédia momentânea,
sem saberem que passam por onanistas.)
Interessam: os percursores. Os que são chamados a
registar invenções. Os que determinam o avanço do conhecimento e aceitam deitar
as suas teorias à prova dos nove. Os que ensaiam e recuam, ao admitirem que do
ensaio não resultou coisa que valha. Os que professam uma esperança no contínuo
avançar do conhecimento e se recusam a aceitar a definitividade das respostas, diligenciando
perguntas que sejam propedêuticas do conhecimento reinventado. As inéditas misturas
de conhecimentos, tecendo pontes entre ciências que se julgavam irremediavelmente
deslaçadas. A transfiguração das impossibilidades (em depois possibilidades) –
e a não capitulação perante as impossibilidades, que o podem ser apenas no
momento considerado. A sede pela descoberta do desconhecido, ou pela
redescoberta do quase esquecido. A ida ao dicionário, quando as palavras são neófitas
ao conhecimento.
(E quem sabe o que é um ruibarbo e qual a sua
serventia?)
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