A. R. Kane, “Supervixens”,
in https://www.youtube.com/watch?v=JA5OVSyJZ9w
(Porque hoje é o dia
da criança)
1
Não desaprender de
sorrir. No sorriso descomprometido de quem continua hipotecado a uma certa
inocência. O sorriso sincero e espontâneo.
2
Não deixar de fazer o
que apetece, derrotando os usos e costumes. Na ingenuidade de não prestar
contas a ninguém, por achar que não é necessário.
3
Não prescindir da
fantasia que enfeita o mundo particular quando se é criança. Pois esse universo
fantasioso é mais apetecível do que o chão tangível em que os adultos assentam
os pés. Uma criatividade heurística.
4
Não abdicar da
curiosidade inerente à idade dos porquês. Pois quando se abandonou a idade das
incertezas e a aparente madurez cauciona a sobranceria dos imperativos
categóricos, as interrogações foram desaprendidas. Ao menos, na infância, a
inocência pastoreia as perguntas de quem quer beber os rudimentos do
conhecimento. Na lhaneza de quem admite haver tanto por descobrir.
5
Não dar como
adquirida a maldade da espécie, nem mergulhar nas profundezas do poço sem fundo
do pessimismo antropológico. Em criança, todos são naturalmente bondosos.
6
Não desconfiar das
intenções dos outros. Em decorrência do quinto mandamento do decálogo, não há
lugar à perfídia, nem às segundas intenções, nem a jogos perversos de poder que
têm o condão de virar as pessoas umas contra as outras.
7
Não desautorizar as
cores garridas dos dias inteiros, ainda que as nuvens carregadas venham obnubilar
a intensidade própria de um dia soalheiro.
8
Não desaprender as
impossibilidades do mundo que a ingenuidade incendeia. A capitulação, muitas
vezes perante a mínima contrariedade, é sinal do conformismo da idade adulta.
9
Não esquecer do tremendo
apetite pelo porvir, na exata emanação do potencial criador do tempo por haver.
10
Não transigir com a
embriaguez do poder. Pois o poder transfigura a essência da alma e deita as
pessoas, por ele inebriadas, nas margens do narcisismo. Não transigir com a
sede de poder, sem perder de vista que o respeito pelos outros é a síntese do
individualismo que não resvala para o egoísmo.
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