1.6.16

Decálogo para não deixar de ser criança

A. R. Kane, “Supervixens”, in https://www.youtube.com/watch?v=JA5OVSyJZ9w
(Porque hoje é o dia da criança)
1
Não desaprender de sorrir. No sorriso descomprometido de quem continua hipotecado a uma certa inocência. O sorriso sincero e espontâneo.
2
Não deixar de fazer o que apetece, derrotando os usos e costumes. Na ingenuidade de não prestar contas a ninguém, por achar que não é necessário.
3
Não prescindir da fantasia que enfeita o mundo particular quando se é criança. Pois esse universo fantasioso é mais apetecível do que o chão tangível em que os adultos assentam os pés. Uma criatividade heurística.
4
Não abdicar da curiosidade inerente à idade dos porquês. Pois quando se abandonou a idade das incertezas e a aparente madurez cauciona a sobranceria dos imperativos categóricos, as interrogações foram desaprendidas. Ao menos, na infância, a inocência pastoreia as perguntas de quem quer beber os rudimentos do conhecimento. Na lhaneza de quem admite haver tanto por descobrir.
5
Não dar como adquirida a maldade da espécie, nem mergulhar nas profundezas do poço sem fundo do pessimismo antropológico. Em criança, todos são naturalmente bondosos.
6
Não desconfiar das intenções dos outros. Em decorrência do quinto mandamento do decálogo, não há lugar à perfídia, nem às segundas intenções, nem a jogos perversos de poder que têm o condão de virar as pessoas umas contra as outras.
7
Não desautorizar as cores garridas dos dias inteiros, ainda que as nuvens carregadas venham obnubilar a intensidade própria de um dia soalheiro. 
8
Não desaprender as impossibilidades do mundo que a ingenuidade incendeia. A capitulação, muitas vezes perante a mínima contrariedade, é sinal do conformismo da idade adulta.
9
Não esquecer do tremendo apetite pelo porvir, na exata emanação do potencial criador do tempo por haver.
10
Não transigir com a embriaguez do poder. Pois o poder transfigura a essência da alma e deita as pessoas, por ele inebriadas, nas margens do narcisismo. Não transigir com a sede de poder, sem perder de vista que o respeito pelos outros é a síntese do individualismo que não resvala para o egoísmo.

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