Einstürzende Neubauten, “Total Eclipse of the Sun”, (live), in https://www.youtube.com/watch?v=2IyNWGBNf9M
Um nada que o tudo maior. No tempo em que tudo se resume
a um nada que se eleva. Suspende-se o tempo. Suspendem-se as apoquentações que
vêm de algures e, talvez, até de nenhures. Desimporta tudo o que não seja o
nada entronizado. Para ser poltrão, deixando o tempo repousar na sua esteira.
Sem relógios tiranetes a imporem uma cadência. Na terra do nada não há tempo
para atrasos. Sem lugar aos pensamentos complexos que se perdem no irrisório. E
nada tem importância, a não ser o nada que se celebra. Nos braços
desembaraçados de empreitadas, que o nada imperativo não cauciona empreitadas
enquanto se mantiver o império do nada. Depois, pode vir à superfície o que
tiver provimento. Depois, podem ser convocadas as coisas todas que estavam na
linha de montagem e ficaram presas a um hiato enquanto decorria o nada. Mas
isso é depois. Só depois de o nada percorrer a estrada que lhe foi preparada.
Entretanto, coage-se a preguiça a ser metódica, a erguer o pescoço fora das
algemas a que anda agrilhoada o tempo restante. Um nada, singelo como são os
nadas, merece consagração. Pois não somos animais sacrificiais de um tempo
voraz que nos consome a lucidez, enquanto por fora do mundo imenso que julgamos
preenchido com as coisas mais importantes do mundo passam os nadas que
desvalorizamos, os nadas singelos cheios de conteúdo. Talvez por não sabermos
atribuir importância às coisas que importam, na exata medida dos nadas que
fogem por entre os dedos se os tentássemos agarrar. Um nada, intangível como
nas coisas imateriais que congraçam a maior riqueza que podemos reter nas mãos.
No mais alto mastro, de onde se avista o mar inteiro e a terra fértil nas suas
costas, até gritarmos, o mais alto possível, que o nada emoldurado nas mãos
vale mais do que o muito que se julgue ter depois do tempo do nada se extinguir
na sua validade.
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