7.6.16

Nada


Einstürzende Neubauten, “Total Eclipse of the Sun”, (live), in https://www.youtube.com/watch?v=2IyNWGBNf9M 
Um nada que o tudo maior. No tempo em que tudo se resume a um nada que se eleva. Suspende-se o tempo. Suspendem-se as apoquentações que vêm de algures e, talvez, até de nenhures. Desimporta tudo o que não seja o nada entronizado. Para ser poltrão, deixando o tempo repousar na sua esteira. Sem relógios tiranetes a imporem uma cadência. Na terra do nada não há tempo para atrasos. Sem lugar aos pensamentos complexos que se perdem no irrisório. E nada tem importância, a não ser o nada que se celebra. Nos braços desembaraçados de empreitadas, que o nada imperativo não cauciona empreitadas enquanto se mantiver o império do nada. Depois, pode vir à superfície o que tiver provimento. Depois, podem ser convocadas as coisas todas que estavam na linha de montagem e ficaram presas a um hiato enquanto decorria o nada. Mas isso é depois. Só depois de o nada percorrer a estrada que lhe foi preparada. Entretanto, coage-se a preguiça a ser metódica, a erguer o pescoço fora das algemas a que anda agrilhoada o tempo restante. Um nada, singelo como são os nadas, merece consagração. Pois não somos animais sacrificiais de um tempo voraz que nos consome a lucidez, enquanto por fora do mundo imenso que julgamos preenchido com as coisas mais importantes do mundo passam os nadas que desvalorizamos, os nadas singelos cheios de conteúdo. Talvez por não sabermos atribuir importância às coisas que importam, na exata medida dos nadas que fogem por entre os dedos se os tentássemos agarrar. Um nada, intangível como nas coisas imateriais que congraçam a maior riqueza que podemos reter nas mãos. No mais alto mastro, de onde se avista o mar inteiro e a terra fértil nas suas costas, até gritarmos, o mais alto possível, que o nada emoldurado nas mãos vale mais do que o muito que se julgue ter depois do tempo do nada se extinguir na sua validade.   

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