Protomartyr, “Come &
See”, in https://www.youtube.com/watch?v=F2vUPp-Ffho
Com as mãos erguidas ao céu, pedindo reconhecimento às
divindades, alteiam-se as proezas. Ufanos, como se na brevidade de um instante se
julgassem casta, representação de uma elite, empunham o cetro que sela proezas.
Desconhecem que elas são indiferentes a toda a gente fora deles. Talvez porque
as outras pessoas são atiradas para o jardim da irrelevância. Talvez por um
narcísico ensimesmar que só deixa ver para dentro, os atos celebrados como
proezas é que contam. São proezas porque foram eles a consegui-las. Fossem os
outros e não seriam se não a expressão de um módico de humanidade. O cetro
correspondente é zelosamente guardado. Merece a glória e o tratamento cuidado
que as coisas valiosas merecem. O cetro, como se fosse uma joia de incalculável
valor, autentica o orgulho supremo. Serve para afiançar um pergaminho
diferente, pelo menos para o autocentrado autoconvencimento de que se julgam
credores. Só não sabem que o cetro cega. Liquida as expetativas de lucidez.
Atira-os para uma ilha isolada onde, por erro, acordam a acreditar que são únicos
entre os demais. Toldados pela luminescência que julgam ser aura a irradiar das
suas imensas pessoas, não lhes é dado a perceber que cetros destes são
ardilosas maquinações de que são fautores sem darem conta. Fautores e vítimas,
numa conspiração sem rosto que passa pelos dedos insentidos que orquestram uma
imagem ampliada que não confere medida com a estatura. A história está repleta
de endemoninhados que se enamoraram pela imagem falsamente seráfica de um cetro
como personificação de uma grandeza por mais ninguém reconhecida. Pois há quem
se julgue amesquinhado pelo anonimato. Há quem viaje em fulgurantes arremedos
de um eu projetado por cima do céu, por carência de atenção (de que se julgam
merecedores). Constroem castelos no céu. Sem esteios que os amparem. Quando acordam
dos sonhos, estatelam-se no chão. E vêm como o cetro se despedaça ao atingir o
chão.
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