Sigur
Rós, “Ágætis Byrjun”,
in https://www.youtube.com/watch?v=Hrq7ffdV1ro
I
Os porquês da existência: se somos ser
algum, é-nos titulada uma razão de ser. Porque somos? Porque alguém nos
concebeu – a resposta simplista; porque uma conjugação de fenómenos cósmicos congeminou
a nossa existência serventuária dos propósitos do mundo – a resposta que anula
a identidade do ser; porque servimos uma finalidade, o que conduz à pergunta
seguinte.
II
Para quê? Qual é a finalidade da existência? Abre-se
uma constelação de hipóteses: existimos para sermos provedores da felicidade,
da própria e da que pertence a outros – hipótese heurística; existimos para dar
existência outra (considerando a existência outra que possa estar unicamente
dependente do exercício da nossa vontade) – hipótese altruísta (ou não, se a
abordagem da existência estiver contaminada por nuvens negras); existimos para
o prazer – hipótese hedonista; existimos para sentir sofrimento, nem que seja
para conferir mérito ao prazer – respetivamente, hipóteses masoquista e
utilitarista; existimos para o conhecimento e para as artes – hipótese
científica; existimos para confirmar os preceitos de um deus – hipótese
metafísica; existimos, mas não damos conta da finalidade do existir,
limitamo-nos a deixar que a existência seja conduzida pela congeminação das
forças exteriores a que, por comodidade, denominamos “devir” – hipótese anuladora
da existência.
III
A pergunta das perguntas: existo? Os lugares comuns
não entendem a demanda: se somos pensamento, a ponto de formular interrogações
sobre a ontologia da existência própria (e, por maioria de razão, da alheia), é
porque preexiste a existência; sem ela não pode haver pensamento formulado. Existimos,
por conseguinte. Mas o pensamento inconformado pode desafiar as convenções.
Pode perguntar se a existência não é uma ilusão criada por dentro de um mundo
de sonhos. Se não somos apenas o produto onírico de outrem, e apenas vivemos
enquanto criação de um sonho vivido por outrem. Numa transfiguração do tempo,
com a sua própria existência prolongada para fazer demorar o tempo do sonho em
correspondência com o tempo que corresponde à existência do ator que vive por
dentro do sonho. Será existência, dirão os puristas. Os mais céticos, entre os
que consideram a hipótese de uma existência por interposta pessoa, dirão que é
existência parcial: falta-lhe a autonomia da vontade para ser existência
potencial.
IV
Por este critério – existência dependente do exercício
autónomo da vontade – não seremos todos existência amputada?
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