My Bloody Valentine, “Soon”,
in https://www.youtube.com/watch?v=w4-5gHR3_Kg
Estava-se à espera que a primeira palavra a vir à superfície
fosse labirinto. É o retrato vivo de uma caixa de Pandora que acabou de se abrir.
Um emaranhado de caminhos, sucessivas encruzilhadas que se desmultiplicam numa
outra série de caminhos, e o adivinhar a deitar-se a jogo à falta de um mapa esclarecedor.
Havia quem receasse caixas de Pandora. Era pelo medo
fabricado depois de muitas interrogações desertas, órfãs de resposta. Era pelo pavor
da incerteza e que a incerteza degenerasse em caos, com a inorganização
consequente. Não lhes era dado ver que a caixa de Pandora podia ser uma
oportunidade a desabotoar-se vagarosamente. Que o embaraço fosse a ordem
dominante antes de a caixa de Pandora ser aberta. Fazia sentido que ao abrir-se
a caixa de Pandora a impressão fosse a desordem. Talvez só o fosse por
contraste com o que se supunha ser uma ordem estabelecida, os usos e costumes a
que as pessoas estavam habituadas e, tementes de uma mudança, a quadrassem com
o pânico que vem depois de um abalo telúrico.
Faltava desassombro para julgar a caixa de Pandora como
uma reinvenção do palco que os pés logravam. Uma oportunidade que se oferecia
por diante. Apesar de serem um desafio os tempos vindouros, no imperativo de
reorganizar a teia rompida pela imersão na caixa de Pandora. Teriam de arranjar
lucidez para não se intimidarem com a teia multiforme em que mergulhavam mal os
corpos tomassem lugar na caixa de Pandora. Um desafio não é uma calamidade. A menos
que, habituados à letargia do habitual, estivessem receosos da reinvenção das
coisas ao não darem conta de como atávica se tornou a ordem desafiada pela
caixa de Pandora. Tudo o que se exigia, era abertura para um novo olhar.
O labirinto dentro da caixa de Pandora era uma profusão
de caminhos entrelaçados. Não havia mapa feito, nem se pressagiava que houvesse
um feito à medida das carências nos tempos que vinham a seguir. E nem assim os
mais desassombrados se transtornaram com a abertura da caixa de Pandora. Estavam
aquartelados numa minoria, quase segregados. Não vacilaram. Mergulharam na
caixa de Pandora e trataram de congeminar uma maneira de lhe tomar o leme.
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