13.7.17

Demasiadamente humano


Cocteau Twins, “Love’s Easy Tears”, in https://www.youtube.com/watch?v=1quZbpgLh7w    
Não sei se as lágrimas sabem a sal. Nunca provei as minhas. Nunca provei as lágrimas que não são minhas. Não sei se é líquido que os homens podem chorar sem se lhes apoucar a masculinidade. Julgo que tais preceituados são estéreis considerações que apenas abonam ao interesse de mitos urbanos ou de conversas desprovidas de matéria. Também não sei se há regularidade aceitável para as lágrimas vertidas. Eventualmente, não haverá critério sobre o lacrimejar, pois não é por acaso que se diz, à saciedade, que cada pessoa é expoente da sua própria singularidade. Será supérfluo teorizar sobre as ocorrências que ditam a excrescência lacrimal devido à subjetividade das almas. Julgo não ser excessivo afirmar que não me interessam as lágrimas alheias (a não ser das pessoas que me dizem muito).
A quem compete o juízo das lágrimas, se não a quem delas é tutor? E nem é válido atirar a jogo o princípio da exteriorização das lágrimas, quando supomos serem devidas a ações que extravasam os limites do nosso ser. É errado: as lágrimas são sempre um produto da sensibilidade única que reside em cada pessoa. Uns choram mais do que outros. Uns têm a lágrima à flor da pele, outros são almas empedernidas que recusam o vencimento da lágrima por todos os meios ao seu alcance – como se fosse vergonha mostrá-las quando as lágrimas não são reprimidas pelo avesso dos olhos.
Há músicas que fazem chorar. Poemas que fazem chorar. Filmes que fazem chorar. Episódios da vida pessoal coroados com copiosas lágrimas. Mortes que trazem lágrimas no regaço. Nascimentos que descompõem os prantos. Instantes intensos tutelados pela irrefreável comoção vertida em lágrimas. Tenhamos um lenço enxuto preparado para ser a barragem das lágrimas assim vertidas e o resto, a demonstração da nossa humanidade, fica por conta do demais.
Há palavras e expressões espúrias usadas quando, de fora, alguém aprecia lágrimas alheias: pieguice, sensibilidade extremada, uma flor de estufa. Desenganem-se os atingidos pelos tutores dessas palavras e expressões: como se fosse possível eles nunca terem chorado! O que conta, não é o juízo desalmado de quem usa essas palavras e expressões descompassadas, mas a humanidade a rodos dos que se oferecem em prantos, não importando saber o que os motiva, nem quando têm lugar.

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