Cocteau Twins, “Love’s Easy
Tears”, in https://www.youtube.com/watch?v=1quZbpgLh7w
Não sei se as lágrimas sabem a sal. Nunca provei
as minhas. Nunca provei as lágrimas que não são minhas. Não sei se é líquido que
os homens podem chorar sem se lhes apoucar a masculinidade. Julgo que tais preceituados
são estéreis considerações que apenas abonam ao interesse de mitos urbanos ou
de conversas desprovidas de matéria. Também não sei se há regularidade aceitável
para as lágrimas vertidas. Eventualmente, não haverá critério sobre o
lacrimejar, pois não é por acaso que se diz, à saciedade, que cada pessoa é expoente
da sua própria singularidade. Será supérfluo teorizar sobre as ocorrências que ditam
a excrescência lacrimal devido à subjetividade das almas. Julgo não ser
excessivo afirmar que não me interessam as lágrimas alheias (a não ser das
pessoas que me dizem muito).
A quem compete o juízo das lágrimas, se não a
quem delas é tutor? E nem é válido atirar a jogo o princípio da exteriorização
das lágrimas, quando supomos serem devidas a ações que extravasam os limites do
nosso ser. É errado: as lágrimas são sempre um produto da sensibilidade única
que reside em cada pessoa. Uns choram mais do que outros. Uns têm a lágrima à
flor da pele, outros são almas empedernidas que recusam o vencimento da lágrima
por todos os meios ao seu alcance – como se fosse vergonha mostrá-las quando as
lágrimas não são reprimidas pelo avesso dos olhos.
Há músicas que fazem chorar. Poemas que fazem
chorar. Filmes que fazem chorar. Episódios da vida pessoal coroados com
copiosas lágrimas. Mortes que trazem lágrimas no regaço. Nascimentos que
descompõem os prantos. Instantes intensos tutelados pela irrefreável comoção
vertida em lágrimas. Tenhamos um lenço enxuto preparado para ser a barragem das
lágrimas assim vertidas e o resto, a demonstração da nossa humanidade, fica por
conta do demais.
Há palavras e expressões espúrias usadas quando,
de fora, alguém aprecia lágrimas alheias: pieguice, sensibilidade extremada,
uma flor de estufa. Desenganem-se os atingidos pelos tutores dessas palavras e
expressões: como se fosse possível eles nunca terem chorado! O que conta, não é
o juízo desalmado de quem usa essas palavras e expressões descompassadas, mas a
humanidade a rodos dos que se oferecem em prantos, não importando saber o que os
motiva, nem quando têm lugar.
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