Mac DeMarco, “On the Level”
(live at Conan O’Brien), in https://www.youtube.com/watch?v=L3Fl0xsxsCA
“Não
te deixes derrubar pela insignificância dos pequenos momentos e serás homem
para os grandes; se jamais te faltar a coragem para afrontar os dias em que
nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira.” Agostinho da Silva, “Dos Dias
Monótonos, Considerações”, in Textos e
Ensaios Filosóficos I, 1944, p.113.
Não os diletos patrícios que emprestam grandeza
ao feitio da terra que os viu nascer. Filhos da terra: no sentido dos homens e das
mulheres que metem as mãos na terra e se extasiam com o aroma que frui quando
as mãos sujas se aproximam do nariz sôfrego. As mãos ávidas que trazem da terra
os sedimentos que as transformam em frutos. As raízes subtraem-se ao
esconderijo e exibem-se no esplendor que é seu. São intermediadas pelos filhos
da terra, que a contemplam na reinvenção dos esteios que se fundeiam nas
profundezas da terra, partindo em demanda das suas raízes.
Uma vez, alguém protelou o entendimento do
mundo desafiando os restantes a olharem para a árvore matricial que assinalava
a geografia. Havia algo de demiúrgico naquela árvore. Era como se dela
emanassem os poros rudimentares de onde tudo desabrochava em pujante exibição
frondosa. Um outro replicou: a árvore está embebida nessa sumptuosidade porque
se estriba na terra opulenta, que é seu húmus. Contrasta com as terras nas
imediações, atordoadas pela paisagem desértica, mostrando uma infecundidade aflitiva.
As terras à volta eram o mostruário da fragilidade. A vida não medrava nas
formas em que habitualmente medra no arrebatamento da natureza.
Apostaram na colonização das terras de que toda
a gente fugia. Congeminaram sábios planos para transplantar a terra boa para os
locais onde ela era frágil. Decidiram exportar a generosidade da terra cevada, à
espera que se desse um contágio favorável nos lugares da terra frígida. E
esperaram. Teriam de conviver com a demora. A biologia ensina a ser paciente
com a passagem do tempo. Enquanto eram passageiros de tempo e esperavam, com a
paciência imperativa, por um bom final para a aventura, os colonos não ficaram
impassíveis. Não transigiram nos cuidados exigidos para que a terra boa não
apodrecesse. Cativaram os seus melhores esforços para não deixarem fracassar a
empreitada.
Nos interstícios, não se dedicaram apenas à
paciência exigível. Nos intervalos das funções exigidas pelo plano cinzelado, as
pessoas não capitulavam à inércia nem se deixavam derrotar pela impertinência
silenciosa dos tempos sem aparente serventia. A letargia era a mais mortífera
das espadas a adejar sobre as suas cabeças. Só se dá conta dos seus efeitos devastadores
depois da espada ter descido, sem remissão.
Sem comentários:
Enviar um comentário