4.7.17

Sobre o caudal frugal do rio estival


You Can’t Win, Charlie Brown, “If I Know You, Like You Know I Do”, in https://www.youtube.com/watch?v=uZNI-nxX0oo    
Provavelmente, um pedaço de gelo esperado para amolecer o calor que não pertence a este lugar. Provavelmente, preces aos deuses do tempo, esperando que eles congeminem um tempo que quadre com o verão que pertence a este lugar.
Sobejam os pirómanos das almas, os artificiais próceres de regras de conduta, imperando-as sobre os comportamentos das pessoas (se as pessoas não quiserem ser consideradas apóstatas). São a metáfora da canícula a despropósito – ou a metáfora do punhal que trespassa as costas, eviscerando o corpo. Ou, provavelmente, fechamos os olhos, subimos ao palco de um sonho, montamos nas asas de uma ave de porte e apreciamos a paisagem, depois de desatado o sono. Para sabermos a linhagem da paisagem: onde estão as planícies, onde medram as montanhas inacessíveis, os rios lúgubres por efeito da devassidão da seca estival e, enfim, a linha do mar que espera os rios como seu derradeiro leito. Desenhamos um mapa para o termos nas mãos como caução.
Não escondemos a sede de saber. Não fugimos da cultura que nos desafia. Porque se há modesto saber que fazemos gala em ostentar, é a superioridade do saber em suas versáteis formas. Ou então, procuramos saciar essa sede nos lugares diferentes que houver por descobrir. Como, provavelmente, essas cidades à nossa espera estivessem prontas para as mordermos com a sede de saber que trazemos a tiracolo.
Desaprovamos os pirómanos frugais que se contentam com a perfídia qualificada, com a ostentação do saber dos outros em vez de certificarem o saber-saber para os lugares impregnados de cultura que dariam caução à sua madurez. Não temos nada a protestar contra a leviandade, desde que ela se aloje nos braços podres dos outros. Não temos palavras a gastar sobre os rumores alijados pela imodéstia do ser. Só queremos continuar a voar no dorso da ave de porte e a cartografar as terras que sabemos não serem nossas antes do exercício. Pois quando vêm ao olhar, são a catálise do saber sufragado.
(Uma forma diferente de aguentar o tédio da desfasada soalheira estival.)

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