6.1.04

Aviões à prova de piratas, ou bombas aéreas em movimento?

A fobia de segurança dos EUA tem destas coisas que já nem são surpreendentes. A última novidade prende-se com a obrigação de todos os aviões que sobrevoam o espaço aéreo norte-americano serem obrigados a transportar polícias armados. Acredita-se que este é o factor de dissuasão que faltava para garantir a segurança aérea. Para que o terrorismo não venha outra vez dos céus, como no fatídico 11 de Setembro.
As perguntas que surgem no ar são muitas: como podem os EUA obrigar as companhias aéreas de outros países a respeitar esta imposição? Ou forçam a aplicação desta medida, ingerindo um pouco mais nos assuntos internos de outros países; ou recusam-se a receber aviões dos outros países – com o caos que se adivinha, pela paralisação do tráfego aéreo e pelos tremendos obstáculos à liberdade de circulação de pessoas que isso representa. Para um país que se afirma tributário das liberdades, este não é um exemplo de que se possam gabar.
Outra interrogação assalta o meu espírito: a presença de um polícia armado será suficiente para garantir a impossibilidade de sequestros de aviões? Partindo do pressuposto que os terroristas atacam em grupo, não lhes será fácil dominar o agente da autoridade? Como tal, não ficarão os terroristas na posse de algo – uma arma – que não podem transportar para dentro de aviões?
E quem pode garantir que os agentes de autoridade que transportam as armas são capazes de perceber os elementos essenciais de funcionamento de um avião? Mais ainda, pode-se assegurar que, numa eventual refrega, não haja balas perdidas que furam a fuselagem do avião, condenando-o a uma queda sem retorno?
São incógnitas a mais para se concluir que esta medida representa um passo adiante na segurança aérea. Pelo contrário, vejo nesta medida o lenitivo que os fundamentalistas islâmicos necessitam para retomar o terrorismo aéreo.
Sem surpresas. Afinal, em matéria de segurança – assim como em matéria de política externa – os EUA comportam-se como um elefante numa loja de porcelanas. Desajeitados e incoerentes. A cada passo que dão, um abalo telúrico que apenas tem o condão de acentuar a insegurança que grassa no mundo.
E, afinal, não será isso mesmo que os neo-conservadores norte-americanos ambicionam? Sem isso, como podem eles manter a política de visível autoridade dos EUA em redor do planeta?

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