Eduardo Prado Coelho disserta hoje, no Público, sobre a “alter-mundialização”. Termina o artigo com uma tirada deliciosa:
“A esquerda tem de manter a causa da liberdade (perante a liberdade estritamente económica e muitas vezes antiliberal do neoliberalismo), mas não pode abandonar os princípios de igualdade, que são a sua última e mais profunda razão de ser”.
Se ainda estivesse desorientado quanto aos azimutes ideológicos, tiradas destas vêm provar que não é para “a esquerda” que as minhas simpatias se inclinam. Aquela frase explica-o com nitidez:
1. “A esquerda” não hesita em sacrificar as liberdades individuais em nome de uma coisa bela que nunca há-de conseguir alcançar – a igualdade. É por persistir na ambição da igualdade que tantos atropelos às liberdades têm sido cometidos pela “esquerda”. Em boa verdade, interrogo-me se não será a sede de uma ilusória igualdade que constitui o pretexto para uma “esquerda” que necessita de passar por cima das liberdades como quem necessita de oxigénio para respirar.
2. Comentário final sobre o parêntesis de Prado Coelho (“perante a liberdade estritamente económica e muitas vezes antiliberal do neoliberalismo”): o que é a liberdade antiliberal do neoliberalismo? O intelectual sugere que o neoliberalismo se encerra numa contradição insanável, de ser antiliberal porque se filia apenas em liberdades económicas. Mas creio que quem perde o fio à meada ao seu raciocínio é o próprio Prado Coelho, ao deixar-se envolver numa daquelas construções elaboradas que se diluem em nada.
A urgência em catalogar o neoliberalismo como antiliberal constitui a prova. Em que ficamos: é neoliberalismo, mas anti-liberal? Ou se é anti-liberal (e presume-se que ele, Prado Coelho, afinal é um liberal – o que seria uma revelação extraordinária!), como se pode chamar neo-liberalismo?
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