7.1.04

A União Europeia é anti-semita?

Organizações que representam os interesses judaicos estão em pé de guerra com a UE. Acusam a Comissão Europeia de anti-semitismo. Ao longo dos últimos dois anos a UE tem exibido maior imparcialidade no sangrento conflito entre israelitas e palestinianos. Afastando-se da posição de apoio descomprometido dos EUA, a UE tem sabido ajuizar com justeza a culpa nos sucessivos episódios de violência que, num rastilho a que não se vê o fim, Israel e integristas palestinianos teimam em incendiar.
O epílogo deste esfriamento de relações entre a UE e a causa judaica deu-se mais recentemente, com um episódio caricato. De acordo com os resultados de um inquérito de opinião conduzido pelo Eurostat, a maioria os cidadãos europeus consideram que Israel é a principal ameaça à segurança mundial – mais ainda do que os execráveis fundamentalistas islâmicos. Esta foi a gota que fez transbordar a paciência das organizações que pelo mundo fora defendem os interesses judaicos. Daí até se acusar a UE é anti-semita foi um passo muito curto.
E será? Que se saiba, entre os políticos europeus que ocupam lugares de destaque não há afirmações de ódio expresso contra os judeus. Nem tão pouco se descobrem iniciativas da Comissão Europeia para regressar aos dantescos campos de concentração, ou às câmaras de gás. Nem sequer estou ao corrente que haja alistamento de facínoras dispostos a infligir as sevícias nos judeus que se encontrem nos países europeus. Também não há notícia de que tropas europeias estejam a auxiliar os palestinianos no seu cego combate aos israelitas.
Por todas estas razões, as organizações que representam interesses judaicos devem estar a laborar numa confusão das grandes. Uma confusão com as palavras que se empregam quando acusam, de dedo em riste, a UE de ser anti-semita. Afinal, nos dias que correm esta confusão retórica está tão vulgarizada que nem sequer chega a ser surpreendente. A UE é anti-semita? Sim, tanto quanto os Estados Unidos andam de braço dado com Bin Laden…
Seria bom que os judeus espalhados pelos quatro cantos do mundo reconhecessem o direito da UE exercer a sua autonomia e ter um direito de opinião não condicionado pelos interesses judaicos. Porque, de outro modo, Israel e a causa judaica perdem pontos na sua afirmação internacional. Até porque esta teimosia de auto-comiseração, que serviu para alicerçar o seu notável poderio em termos internacionais, continua a ser a choradeira que convoca as sensibilidades feridas com o tenebroso passado histórico. Se hoje a UE é anti-semita, o que terá sido Hitler?

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