29.9.05

Porque têm os furacões nomes de mulheres?

(Escrito numa perspectiva masculina não homofóbica. Desaconselhável a homossexuais anti-homofóbicos e, eventualmente, a arreigadas feministas.)

Dos últimos tempos, a atenção redobrada pelo fenómeno dos furacões. A destruição que varreu o Louisiana e que ameaçou derrubar o Texas em pouco mais de duas semanas, pôs em destaque este fenómeno meteorológico. Mais do que saber o que os desencadeia, houve quem se entretivesse a estudar a tipologia feminina dos furacões. Katrina e Rita. Todos são baptizados com nomes de mulheres, obedecendo a uma ordem preestabelecida. E pergunta-se: porque se convencionou que os furacões têm de levar com o nome de mulheres? Mudando de perspectiva – mais simpática para a causa feminista – porque há-de este demolidor fenómeno da natureza ter a bênção sombria de nomes de mulheres?

Um furacão é uma destruição avassaladora. Por onde passa deixa um rasto de devastação. Anuncia-se com um céu escurecido, os primeiros ventos que sopram com força, na antecipação da violência que virá mais tarde. É o aviso das chuvas impiedosas, batidas a rajadas de vento que espalham destruição. Quando a densa massa de nuvens que rodopia a uma velocidade incrível beija as localidades expostas à inclemência do furacão, é como se houvesse um fechar de olhos que se prolonga por longos instantes – as horas que demora a passar a terrível devastação atmosférica. Quando os olhos regressam do torpor, e as pessoas se libertam do recolhimento, testemunham o mundo às avessas, os danos avultados, antecipam o tempo que vai ser gasto para recompor as coisas no seu lugar.

As mulheres são um pouco disto tudo. Passam por nós como apeadeiros onde o comboio pára obrigatoriamente. Por mais que nos esforcemos por dar ordem de marcha contínua à carruagem, no propósito de evitar a paragem no apeadeiro dos prazeres e dores femininos, a paragem é inevitável. A misoginia não está no roteiro. É como se o barco buscasse porto para ancorar mágoas, saciar a sede de companhia. As águas bonançosas onde aporta não deixam adivinhar a agitação quando a mulher se transforma na avassaladora tempestade que leva tudo à frente. O porto de abrigo perde os seus predicados, e a tormenta é visita que perturba o espírito.

Os homens teimam em pintar uma imagem pouco simpática da mulher. Que tem feitio destemperado, que é criatura difícil de compreender. Os mais irónicos dizem que a mulher devia vir com manual de instruções, tanta a imprevisibilidade que arrastam. Levas de homens que se acham vítimas da incompreensão feminina queixam-se que nunca sabem como se hão-de comportar. Surge o dilema: porque se fazem são censurados por fazerem, se optam pela passividade cai-lhes a crítica em cima por terem ficado quietos. É arte trabalhosa satisfazer uma mulher. Que não se livra do rótulo de criatura caprichosa.

Como caprichosos são os furacões. Não se deixam controlar. Pode ser elevado o avanço tecnológico, podem ser abundantes os utensílios para monitorizar o comportamento da atmosfera. O Homem ainda não se conseguiu investir na condição divina que lhe permite controlar a natureza. Indomável, ela semeia os ventos e as tempestades quando decide nutrir o furacão que nasce do nada. Como indomáveis são as mulheres que, de repente, fazem nascer a tempestade num copo de água.

Se calhar, tudo isto está errado. Somos nós, homens, que desprovidos de mínimos de sensibilidade não temos capacidade para entender as mulheres. Terão elas razão quando decidem infernizar a nossa vida. Ou seremos apenas piegas, pintando um quadro negro quando achamos que nos infernizam a vida – quando, tantas vezes, elas têm razão nos protestos que se soltam da sua boca. E tudo isto está errado, apelidar furacões com nomes de mulheres, resquícios de um mundo masculino – ou "mundo" não fosse uma palavra masculina – que atira os males que o atormentam para os braços nada repousantes da mulher.

Suprema injustiça, que mistura um erro de análise com o egoísmo militante dos machos: porque elas dizem, e com razão, que não conseguimos viver sem elas!

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